O “mito da caverna”, da Grécia Antiga, é uma das principais narrativas para se entender a consciência humana acerca da liberdade; nela, todos estão presos, geração após geração – nascem e morrem prisioneiros. Vivem iludidos com as sombras projetadas nas paredes da caverna, e tudo faz parte do plano dos amos: eles têm a liberdade para expressar as suas ideias e, até mesmo, podem votar e escolher representantes; mas, nos bastidores do palco político – em que está mesmo o poder –, riem e debocham deles, pois a pretensa liberdade é, afinal, a própria escravidão.
Mais próxima a nós historicamente, em 1919 na Alemanha foi instaurada uma República Socialista e, em 1932 (véspera da ascensão de Hitler), o jurista nazista Schmitt reconheceu, diante de uma plateia de empresários, que a “República [Socialista] de Weimar é o Estado total”, pois interferia diretamente nos conflitos entre todos os setores da sociedade. Ainda para ele, então, era necessário: despolitizar a sociedade, paralisando qualquer questionamento à liberdade e, ainda, submeter as pessoas ao medo, a partir da ideia de que o Estado não poderia fazer mais nada por elas – outro exemplo de como o autoritarismo, e as tendências neoliberais, sempre caminharam juntas.
O atual Estado brasileiro, do mesmo modo, não tem feito muito pelo seu povo – mas, apenas, para a sua classe empresarial – e, para tanto, convenceu a todos que “não pode (ou mesmo, deve!) fazer”; e, então, políticos negros se opõem as cotas raciais, e os trabalhadores mais pobres defendem a perda de seus direitos trabalhistas e previdenciários. Por que mais as pessoas se tornariam “empresárias de si mesmas”? É a despolitização: é assim no “mito da caverna”, na Alemanha nazista e, ainda, no Brasil de 2020 – nos tornamos menos livres, quanto maior é a liberdade dos que deveriam nos representar. Despolitizados, estamos submetidos ao medo e sozinhos.
Cientista Social
Mestre em Sociologia
Professora de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda na Uninter
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