Como quase tudo, a palavra se origina do latim – em sua origem etimológica, apenas, pois a condição de ser ignorante nasce ou é cultivada por nós. Contrária a conhecer, desconhecer é sua prática; e, como não somos sabedores de absolutamente tudo, vez outra para uns (ou sempre para outros), este adjetivo se instala em nosso peito, no sentido de ser algo que pulsa também.
Ando meio desligado (ouça Mutantes), meio ignorante ultimamente, a tal preguiça de entender os fatos e de como todos lidamos com eles. Entrei num casulo de absoluta ignorância. Me fechei sem saber, ou como a lagarta, sem ter noção se virarei ou não uma borboleta ou uma mariposa, se colorirei o dia ou assombrarei a noite; mas, assim como as lagartas, o que há de certeza é a transformação, não importa se sei qual espécie sou e o que derivará disso – no final o se conhecer e o aprender virá de uma forma ou outra. A metamorfose é inerente de todos, desde o ser mais ignorante que somos até o vírus mais letal, que talvez aprenda muita mais rápido a se replicar e a se defender de vacinas não adquiridas por mentes ignorantes da própria condição instintiva de sobrevivência.
“Só sei, que nada sei…”: assim se autodeclarava o maior sábio da antiguidade grega; isto, atestado pelo grande oráculo de Delfos (Pítia, mulher e sacerdotisa) que disse: “Sábio é Sófocles, mais sábio é Eurípedes, mas entre todos os homens, Sócrates é sapientíssimo”. Por não ter emprego, não militar na política, não exercer cargos administrativos, foi visto como um filósofo verdadeiramente livre: ninguém o financiava, ninguém o patrocinava – não precisava agradar ninguém. Falar de Sócrates, aqui e agora, é bem pertinente, pois não precisamos saber sobre tudo, mas o necessário para vivermos e convivermos em sociedade. O filósofo disse também que a ignorância mais reprovável é achar que tudo se sabe. Fique em casa, use máscara e álcool 70; mas, se você acredita que a Terra é plana e que o homem não foi à Lua, esqueça tudo o que eu disse – porque, se como Sócratis, sou ainda apenas um amante da Sabedoria, você já está completando Bodas de Diamante com a Santa Ignorância.
Letrólogo
Professor do Governo do Estado do Paraná
Autor do Livro Infanto-juvenil “Sete Ponteiras da Verdade”
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