Europa, século XVI. A modernidade rompe com o obscurantismo medieval, trazendo à luz a razão. No lugar de um Estado teocrático – que justificava a natureza e a cultura por uma base transcendente –, surge o Estado laico, que se encarregaria de substituir a verdade “revelada”, pela verdade testada e comprovada cientificamente. A autonomia da razão, por meio do livre-exame, seria o antídoto contra o veneno do senso comum. Brasil, século XXI. Um governo, de base popular toma o poder, e a sociedade se abre, pouco a pouco, para a cultura de valorização da diversidade. A visibilidade africana, indígena, LGBTI+ começa a ser mais estudada e, então, difundida: é reconhecido o direito de ser diferente. A situação da educação no Brasil, que sempre foi de abandono – justamente por ser um campo de barganha e de disputa política –, desenvolve o que seriam as bases do que ficou conhecido como “politicamente correto”.
Ironicamente, porém, quanto mais se deu ênfase às três heranças étnicas do Brasil – indígena, africana e europeia – houve uma “onda conservadora” e preconceituosa. A nossa sociedade prefere se ver como europeia, e não como sincrética; e, então, tais pessoas se sentiram pessoalmente atacadas por terem que admitir que o Brasil não é uma Europa. Ao relegarem o indígena e o africano a um papel inferior (se não anônimo), nos tornaram um país incompleto e, então, doente.
Quando tais pessoas se tornam pais, negam aos seus filhos o direito a um pensamento independente, com análise crítica – querendo que eles apenas reproduzam os seus preconceitos e estilos de vida –, sem reconhecer que a educação e a cultura são ferramentas de construção da identidade, a partir das quais podemos ser mais do que já somos. Só admitem que a escola ministre conteúdos capacitistas e alienantes, sem quaisquer interferências nas questões pessoais – e potencialmente problemáticas – da família. O diploma, então, é apenas um meio para se ter emprego, qualquer que seja. São os que apoiaram a “Escola Sem Partido” e, agora, a do ensino militarizado: adoecem o futuro dos filhos, porque não se admitem doentes.
Cientista Social
Mestre em Sociologia
Professora de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda na Uninter
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