***Vol. 1, Nº 006 / 2020 - 30/12 (PASSADO) *Sociedade Sandra Nodari

Pensar e Fazer Melhor do Que Já Foi

Sandra Nodari

No finalzinho deste 2020, dia 29/12, a professora doutora e cineasta Salete Machado Sirino tomou posse como reitora da Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Ao publicar um texto no Facebook, relembrou os seus 40 anos como trabalhadora, do primeiro emprego (como caixa de supermercado aos 15 anos), até quando assumiu o sonho de ser professora, na Faculdade de Artes do Paraná. Ao ler a história da Salete, minha memória como trabalhadora também veio à tona. Comecei aos 11 anos como menor-estagiária do Banco do Brasil mas, antes disto, me lembro de ter vendido Avon, além de ter “cuidado da casa” e do meu irmão mais novo.

Apesar da posse da nova reitora aquecer ao meu coração (neste ano tão ruim), o texto da Salete trouxe memórias que me fizeram refletir sobre a falta de cuidado com as crianças que trabalham desde cedo. Lembrei da forma como nós, meninas, éramos tratadas por funcionários e clientes da agência bancária – e, só agora, tive noção do quanto o ambiente era tóxico.

Entre as marcas sociais de desigualdades, a da pobreza foi a que mais marcou a minha vida. Na adolescência eu tinha vergonha de ser pobre, não ter telefone em casa, não estudar em escola particular, não viajar, entre outras coisas. Ter um salário me proporcionou comprar o que eu não podia; porém, me fez ter que agir como adulta numa fase da vida em que era uma criança. Tinha vergonha de ser infantil, aos onze anos, de não entender o mundo de quem tinha privilégios. Hoje, lembro daqueles homens que nos assediavam e das mulheres que achavam que a culpa era nossa e, portanto, não nos protegiam das “piadas”, ou dos convites para sair – que eram erros deles, e não nossos.

Penso que quanto mais falarmos de nossas experiências de assédio, mais podemos proteger as meninas, ao ajudá-las a reconhecer aos seus próprios. Também acredito que muitas de nós tomaremos partido, defendendo as vítimas e culpando os agressores e, então, neste finalzinho de 2020, quero comemorar os novos espaços para falar de assédios, sendo a Revista de Bamba um “lugar de fala”, para pensarmos e fazermos um ano melhor!

Sandra Nodari

Jornalista
Mestre em Comunicação e Linguagens
Professora de Jornalismo na Universidade Positivo
Facebook / Instagram / LinkedIn / Lattes

Posts Relacionados