***Vol. 2, Nº 008 / 2020 - 28/01 (PRESENTE) *Comunicação Nicole Kollross

O Presente de Soul (sem spoiler)

Nicole Kollross

Um filme que tenho – exaustivamente, admito – recomendado a todos, é “Soul”. A mais recente animação produzida pela Disney, em parceria com a Pixar, conta a história do músico Joe Gardner que, ao finalmente poder tocar com a sua musa inspiradora, morre em um acidente risível (digno do Coiote do Papa Léguas, pois cai em um bueiro). Do “outro lado”, ele assume uma missão que não era sua: deve mentorar uma alma, a 22, para a ajudar a encontrar o propósito de sua vida. Somente quem já viveu – um “mentor” – pode ensinar o suficiente sobre a vida aos que ainda devem viver; e é só assim que eles conseguem ter o desejo pela vida, por meio de sua missão. É ela que é o “início” das pessoas que, no desenho, já nascem com uma “programação de fábrica”.

Como o texto se propõe ser sem spoilers, vou direto ao ponto na relação com o “presente” (que é a pauta da vez): a obsessão com “missões” (projeções de futuro) tendem a nos distanciar do presente – da nossa própria vida, do “aqui e agora” a partir dos quais “somos”. Dentre as relações do desenho, há uma que é representativa de tal questão: até então, Joe não era mais que o músico e, obcecado, só conversava sobre jazz, mesmo com o seu barbeiro. Foi só ao poder pensar e falar sobre outras coisas além da música – não vou contar do “porquê” (serião, assista!) – que ele pôde, realmente, estar em relação com os demais. O que foi notado, com gratidão, pelo próprio barbeiro.

A alma 22 não queria nascer. Ela não via sentido nas experiências sensíveis por si mesmas e, menos ainda, nas missões a partir das quais elas aconteceriam. Ironicamente, é o que a faz viver genuinamente: ao não se constituir pelo que ainda poderia ser, ela simplesmente é e está (vivendo mesmo o presente). A busca pela sua missão pode acontecer, então, não mais pelo inteligível; mas, no próprio viver a vida – o que, moral da história, é o que a justifica. Fecho o meu argumento com uma de minhas frases preferidas do filme (que, para mim, o resume perfeitamente): “os mentores e as suas missões, tsc. tsc. tsc.”.

Nicole Kollross

Relações Públicas e Publicitária
Doutora em Comunicação e Linguagens (pós-doutorado em educação)
Editora-chefe da Revista de Bamba
Facebook / Instagram / LinkedIn / Lattes

Posts Relacionados