***Vol. 1, Nº 003 / 2020 - 17/11 (IGUALDADE) *Sociedade Anísio Pereira

Não Ser Visto, Ao Ver

Anísio Pereira

Você já percebeu que, na história recente, as recomendações sanitárias frente à pandemia da Covid-19 parecem criar um laço que une todos os sujeitos, na condição de que ninguém escapa ao contágio da doença? Os cuidados com o corpo nos colocam todos na mesma condição, a nível mundial, em que mente e corpo devem se encontrar no resguardo. Ao sermos sujeitos que têm, dentro de suas práticas discursivas, relações de saber e de poder, o uso de máscara se constitui em um dispositivo que – de acordo com o filósofo francês, Michel Foucault –, aparentemente, anula as nossas subjetividades. O encobrimento do rosto sinaliza o quão potente de sentido é tal parte, única em cada sujeito, por meio da qual a identificação é possível. Nessa dimensão imagética, a máscara parece anular as distinções, ao criar uma universalidade entre os corpos.

O isolamento social, que envolve todos os cuidados – sobretudo em estabelecimentos públicos (não entrar sem máscara, utilizar o álcool em gel nas mãos, manter a distância dos outros, etc.) –, nos leva a refletir, também, sobre o cuidado de si e com os outros. Assim, todos estão no “mesmo barco”, e é preciso seguir o código sanitário em prol da coletividade. Ao cuidar de mim, cuido também de quem está próximo e, nesta corrente, está nadando toda a humanidade.

É preciso que nos mantenhamos unidos pelo distanciamento; o que é, apenas, uma aparente contradição da moral vigente – na qual a união só se daria ao estarmos, fisicamente, juntos. Independentemente dos aspectos de cidadania – deveres e direitos de cada um –, a pandemia parece criar um padrão subjetivo, manifesto sobre todos ao anular as diferenças, nos colocando em um mesmo nível. Se a máscara anula as diferenças, e estabelece uma igualdade entre os rostos, os corpos e as subjetividades (pela importância do reconhecimento das recomendações sanitárias públicas, acima de quaisquer desejos particulares meus) – o que dizer dos que não a usam?

Anísio Pereira

Doutorando em Estudos Linguísticos
Professor
Escritor
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