A expressão “lei para inglês ver” surgiu no final do século XIX, quando o Brasil (com S) criou leis para, supostamente, combater o tráfico de escravos da África, cedendo às pressões da potência mundial da época (a Inglaterra). Bastou alguns ingleses deixarem este país “bonito por natureza”, que as antigas práticas eram retomadas; afinal, a lei para inglês ver é a lei que não “pega” – como um chiclete que não gruda no sapato –, foi feita para não ser cumprida. O Brazil de 2020, o país 4.0, é um país virtual.
Exagero? O país com maior aquífero está seco e em chamas, não pelo calor de sua culinária ou pela riqueza de sua cultura; mas, pela atuação calculada por quem pretende lucrar com essa degradação. Houve, também, omissões de quem poderia ter liderado as ações para reduzir milhares de mortes (evitáveis!) pelo Covid-19. Com ciência, com pesquisa, com tudo. Só que não rolou.
O país com o maior sistema único de saúde (o SUS) está assistindo, anestesiado, o cansaço das discussões sem fim e dos falsos escândalos políticos; que só existem para nos distrair do que é mais importante e urgente – a vida, a saúde e a dignidade das pessoas. Enquanto isso, professores tentam virar, da noite para o dia, atores, produtores, diretores. Nunca se trabalhou tanto, mas ninguém vê. Afinal, eles estão em casa, ganhando, e, dizem por aí, “sem fazer nada”. Taí porque precisam entrar na reforma administrativa.
Enquanto isso, os sábios do mercado estão preocupados – e com muita pressa! – para retomar os investimentos estrangeiros, os trabalhos e as aulas. Só não se sabe como, e para quem, isso deve ser feito; mas, isso não importa… O que importa, no Brazil 2020, é a imagem. De preferência uma “selfie”, para inglês ver.
Advogado
Doutor em Direito
Professor de Direito no Instituto Federal do Paraná
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