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Ainda era cedo quando a mensagem chegou. Solicitava minha expertise com a maior naturalidade do mundo. Confiante de que também eu aceitaria com a maior naturalidade, mas a única coisa que apareceu com a maior naturalidade do mundo foi um afeto conhecido: o medo. Será essa mais uma fraude? Aquela velha síndrome atacaria novamente e me faria acreditar que não sou boa o suficiente para realizar a tarefa que vinham me solicitar, justamente, porque sou boa o suficiente?
Bateu a agonia pesada e, imediatamente, pensei em falar com meu amigo escritor – com mais de cinco livros publicados, mestre em literatura, editor e poeta (poeta!) –, ele sim saberia o que fazer! Me salvaria? Absolutamente! Ainda insegura, lembrei do amigo que escreve muito bem e não quer ser escritor (diz ter vergonha, tá!), mas sempre levanta minha bola e dá umas dicas legais. Era isso. Bingo!
O problema é que a descoberta não me deixou calma, e me fez entender que não estava querendo ajuda, mas validação; e tinha prometido a mim mesma que não esperaria que nenhum homem me validasse em mais nada (ok, eles são meus super amigos!). Precisava me dar um basta e, prontamente, amparei minhas dúvidas e medos nelas: nas várias mulheres da minha vida, nas escritoras que conheci no último ano (muitas tão principiantes como eu).
Resolvi enfrentar de frente a inquietação que o novo provoca em todas nós (na maioria, pelo menos), que nos leva a aceitar que somos impostoras constantes: na vida profissional, social, emocional, ou quaisquer outras que a estrutura machista ainda nos impõe. Este era o momento certo para ser “aquela do livro”, a que tem ISBN pra jogar na cara de qualquer um! Ri alto com isso, pois ainda é muita petulância – para alguém como eu – conseguir, assim, na maior naturalidade.
Letróloga
Especialista no Ensino da Literatura Brasileira Contemporânea
Autora do Livro de Contos “Lascas Lascadas”
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