***Vol. 2, Nº 008 / 2020 - 28/01 (PRESENTE) *Comunicação Eloisa Loose

A Brevidade do Presente

Eloisa Loose

Na prática jornalística, os fatos que se tornarão notícias são escolhidos, em grande medida, a partir de seu período de ocorrência. Parte-se do pressuposto de que ninguém quer saber o que aconteceu ontem, ou há três semanas: o passado não serve para situar os cidadãos sobre as suas rotinas. Também o futuro é pouco abordado no campo do Jornalismo, por não trazer “rastros” de um acontecimento concreto mas, sim, de uma possibilidade (que pode vir a não se concretizar).

Como o jornalismo tem como objetivo informar a sociedade sobre aspectos de sua realidade, guiado pelo interesse público, é o tempo presente aquele que é mais acionado e valorizado. A escolha busca demarcar a influência – ou, a tentativa de influenciar – em decisões e ações que moldam as nossas vidas, quase de forma imediata. Focar-se no que é factual, naquilo que é mais recente ou que representa uma novidade, faz parte do dia a dia dos jornalistas (também chamados de produtores de efemeridades). A notícia, assim que consumida, perde seu interesse: é um produto muito perecível.

No tempo dos jornais impressos, era comum dizer que a notícia do dia seguinte só servia para “embalar peixe”. Com a chegada da internet e dos aparelhos móveis, o envelhecimento das notícias foi muito intensificado. Uma publicação de horas atrás pode ser totalmente dispensável, desde que nos habituamos com a atualização contínua dos meios de comunicação online. Contudo, em uma sociedade na qual abundam as informações (não apenas jornalísticas), é preciso entender o presente a partir do seu passado – mirando, também, no futuro. O agora é o tempo da ação, mas ele deve ser acompanhado dos tempos de aprendizado e de planejamento para que os nossos registros não acabem neles próprios, ou sejam destituídos de sentido com a chegada de uma nova ideia.

Viver de forma plena o agora é saber tirar proveito das experiências do passado, e não esquecer dos planos de longo prazo, irrealizáveis na brevidade do presente. O jornalismo, a passos lentos, tem se deparado com a necessidade de alargar os seus modos de fazer; e nós, como agimos para que as nossas realizações de hoje, não se percam amanhã?

Eloisa Loose

Jornalista
Doutora (ganhadora do “Prêmio Capes de Melhor Tese de 2017”)
Professora e Consultora na Área de Comunicação Ambiental
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