A discussão sobre os limites dos meus interesses – em relação aos de toda uma sociedade – não é nova, mas sempre ganha importância quando tratamos de meio ambiente. Embora a natureza seja um bem comum, a sua exploração costuma ser feita apenas por alguns (em benefício próprio), enquanto os impactos negativos são partilhados por um grupo bem maior – que, além de perder os benefícios ambientais, passam também a sofrer com as consequências de sua devastação.
O ecologista Garrett Hardin publicou, já em 1968, “A Tragédia dos Comuns”, sinalizando que a liberdade das pessoas, em um espaço compartilhado, inevitavelmente leva a escassez e/ou perecimento dos recursos em razão das ambições humanas. Isso tende a acontecer sempre que há uma extração desmedida ou, ainda, a má distribuição de ônus dos rejeitos – inclusive, para as futuras gerações, que precisarão de um ambiente equilibrado para a sua sobrevivência.
Ao orientarmos as nossas ações somente para ganhos individuais (quase sempre vinculados ao aumento do lucro), perdemos a dimensão de longo prazo e, também, de nosso pertencimento em um contexto maior que nós; o que pode fazer, previsivelmente, que contribuamos para a nossa própria tragédia. A crise climática e outros colapsos ambientais que já estamos enfrentando hoje são consequências do modelo de desenvolvimento vigente, sustentado na desmedida exploração da natureza.
Convencidos de que a miséria, as desigualdades sociais (e quaisquer outros obstáculos) só poderão ser superados por meio do crescimento econômico, continuamos com o processo de aniquilação da única morada que temos. Estamos em negação de que o nosso modo de vida e nossos sonhos sejam incompatíveis com a sustentabilidade do planeta, mas temos fé de que a ciência, a tecnologia ou mesmo um ser divino superior resolverá tudo no futuro. Será, mesmo, que não há outras alternativas?
Jornalista
Doutora (ganhadora do “Prêmio Capes de Melhor Tese de 2017”)
Professora e Consultora na Área de Comunicação Ambiental
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