Quando penso em “doença” sempre me ocorre outra ideia, a de “desequilíbrio”. Todas as vezes que fiquei doente, quando encarei tantas gripezinhas, sempre tive consciência de que meu corpo adoeceu para impor um “toque de recolher”. As dores corporais eram o convite a um descanso forçado. Um sono além do normal era um “para tudo”, necessário para o corpo voltar ao equilíbrio. Em todas as vezes, também pensei: “eu poderia ter descansado na boa, me alimentado bem, buscado o equilíbrio sem precisar que passar pela doença”.
Equilíbrio é tudo, e é pelo que a natureza inventou o imaginário. Sim, por mais que cientistas sociais evitem tocar nos “biologismos” da cultura, o imaginário não é apenas um produto dos antropólogos. Imagine um animal que desenvolve a consciência da morte, em uma natureza que impõe um adoecimento constante, de seu corpo e de sua psique. A função biológica do imaginário é promover o equilíbrio psíquico humano, porque viver na realidade – ter uma existência apenas literal –, seria por demais doloroso.
No campo das ciências, quanto mais o mundo avança, mais necessárias são a poesia, as emoções, os sentimentos, as espiritualidades e os mitos. No livro “O Paradigma Perdido” de Edgar Morin, o ser humano não é mais compreendido somente pela cultura, ou só pela natureza – mas, como o ser complexo que é. O mundo das ciências parece ainda fechado, cada um em seu quadrado, em três grandes campos: homem e cultura / vida e natureza / física e química. Depois que comecei a estudar com mais atenção a neurociência do consumo, percebi o quanto uma abertura ao outro não faz sentido. Todos os avanços culturais não seriam possíveis sem um corpo, com um sistema nervoso aprimorado pela natureza. As artes, a literatura, a poesia, a música e a dança – o prazer estético, enfim – não seriam possíveis sem processos sinápticos, hormonais, etc.
Talvez a neurociência possa ser uma cura – reconheço a minha opinião como sendo a de um pesquisador encantado com a sua área, ok? –, pela promoção da completude holística, perdida pelas especializações científicas que insistem em estudar o ser humano suas partes, sem entender o conjunto da obra.
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Doutor em Estudos da Linguagem
Professor de Publicidade na Universidade Federal do Paraná
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