Você conhece o quadro de Delacrox no qual a liberdade é retratada por meio da figura de uma mulher? Ela representa a emancipação e a independência, e ocupa o lugar central da composição, aparecendo com os seios à mostra em um paralelo com as antigas esculturas gregas – empunha, em uma das mãos, uma baioneta (pois, não é tão frágil) e, na outra, a bandeira da França, representando patriotismo e um engajamento político que, por meio de um forte senso de justiça, conduz a população a um ato revolucionário.
Me cabe usar uma ideia sobre a tal da liberdade, dentro no coração tupiniquim; sim, aquela que cantamos em nosso hino nacional, “e o Sol da liberdade em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria neste instante”. O autor da letra era admirador confesso da “La Marseillaise”, e achava que um hino deveria ser tão vibrante e triunfal quanto a sua nação; mas, para mim, a nossa liberdade tropical só poderia se manifestar mais à vontade em um samba: “liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós, e que a voz da igualdade, seja sempre a nossa voz” – aí o ideal francês novamente, só que com fantasia de carnaval.
Alguém já disse que somos livres para escolher mas, também, escravos de nossas escolhas; e, sendo assim, como exercer a liberdade num meio cada vez mais restrito? Talvez, então por isso, que a liberdade vem sendo cada vez mais delimitada: liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade de ir e vir, etc. Exercer a liberdade nos expõe, nos convoca a enfrentar as leis que nos regem e, muitas vezes, nos oprimem; é, ainda, buscar por independência – mas, ao fugir de algumas amarras, me torno livremente preso a outras (tanto físicas quanto mentais, acorrentando até mesmo as nossas crenças). O mais importante, então, é: no que te vale mesmo a pena empunhar a baioneta?
Letrólogo
Professor do Governo do Estado do Paraná
Autor do Livro Infanto-juvenil “Sete Ponteiras da Verdade”
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