Cirurgia de “mudança de sexo” é uma expressão completamente inadequada. Além de não corresponder nem um pouco à realidade da mudança corporal que tenta expressar, alinha-se a uma visão completamente ultrapassada e retrógrada, uma visão patriarcal-machista-sexista da sociedade, na qual sexo e gênero são tidos como sendo uma única e mesma coisa, e determinados exclusivamente pelo órgão genital que a pessoa traz entre as pernas ao nascer.
Do ponto de vista da natureza, ser macho ou ser fêmea implica em muito mais coisas que simplesmente possuir um pênis ou uma vagina. Há toda uma estrutura fisiológica relacionada ao sexo, que é herdada geneticamente e que não pode ser mudada. Machos não possuem óvulos e não menstruam, assim como fêmeas não produzem espermatozoides nem ejaculam.
Ao contrário de sexo, gênero independe da existência de qualquer estrutura anatômica e fisiológica específicas. Para ser homem ou ser mulher – ou outra categoria de gênero qualquer – é o bastante que a pessoa se reconheça e se declare como tal. O discurso de gênero não é uma herança biológica, mas um condicionamento sociocultural a que as pessoas são submetidas desde cedo em suas vidas, em função, única e exclusivamente, do órgão genital que trazem entre as pernas ao nascer.
Identidade de gênero é, assim, algo inteiramente subjetivo, de tal forma que, pode-se sim, ser homem, sem possuir um pênis (e, por extensão, toda a carga fisiológica-hormonal relacionada ao ser macho) ou ser mulher, sem possuir uma vagina (e, por extensão, toda a carga fisológica-hormonal relacionada ao ser fêmea). Sendo o gênero um discurso normativo imaterial, inteiramente destituído de qualquer tipo de ligação fixa com o sexo genital, para mudar de gênero é necessário e suficiente mudar de discurso: do discurso da masculinidade para o da feminilidade, ou vice versa.
Psicanalista e Economista
Mestre em Sociologia, e em Administração de Empresas
Candidata a Prefeita de Curitiba
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