- Indicação de música relacionada: PRAYING
Eu sou a pessoa que você agrediu. Não falarei que sou a mulher que você agrediu; porque, a partir disso, você poderia querer se sentir justificado de algum modo – e você não pode.
Você abusou sexualmente de mim, em minha ingenuidade e curiosidade de criança, me fazendo sentir culpada por ter um corpo que ousa existir, que sente prazer. Durante toda a minha adolescência eu tive medo de ser desejada, pelo peso da responsabilidade que sentia por ter sido desejável, quando não podia.
Já adulta, você me manipulou, criando todo tipo de dependência. Me fez realmente acreditar que ninguém, além de você, poderia me amar. Que eu não era digna de confiança, porque era uma pessoa fraca e feia, por dentro e por fora. Não era cuidado, mas apenas uma não-existência além da que você quisesse – porque sem o seu querer, eu nunca seria suficientemente boa.
Quando eu quis ir embora, você gritou. Enforcou o meu pescoço, me jogou contra a parede. Me puxou o cabelo, xingando e batendo em meu rosto. Me ameaçou de morte, a mim e aos meus; e, então, me estuprou, me convencendo de que era melhor eu morrer por dentro, do que você ficar mal o suficiente para querer se matar – já que, então, a culpa também seria minha.
Você, que me fez sentir tanto medo de ir embora, que não me deixou passar pela porta, que me fez correr e gritar à plenos pulmões no meio da rua. Quis tão pouco de mim – nada mais que a mera presença de alguém –, que só me restou estar ali… Se não podia ser livre, eu queria simplesmente não ser.
Você, que é um agressor – não apenas um homem, pois também nada te predetermina ou justifica a partir de seu gênero -, reconheça: não sou uma, sou todas.
Relações Públicas e Publicitária
Doutora em Comunicação e Linguagens (pós-doutorado em educação)
Editora-chefe da Revista de Bamba
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