O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi criou o conceito de “flow” que, guardadas algumas nuances, podemos traduzir como fluxo ou fluidez. Apesar do nome impronunciável, o Csikszentmihalyi é quem mais se aproxima de como é o processo criativo artístico, na minha opinião. Ele afirma que é no momento criativo – quando estamos imersos em criar uma nova realidade (seja ela uma imagem, um texto, uma música, tanto faz) – é um momento de êxtase. Eu concordo com ele. Êxtase é uma palavra que vem do grego e etimologicamente significa “ficar de pé ao lado de algo”.
Chegamos na acepção contemporânea da palavra passando pelo conceito de ficar do lado, ficar à margem; ou seja, estar em uma realidade paralela, experimentar uma existência fora do cotidiano, uma emoção que de tão especial nos parece fora do corpo. O que, naturalmente, nos leva à ideia de que experimentamos o êxtase pela via da exceção e não da regra. Nossa mente não consegue processar mais do que 120 bits de informação por segundo, o que explica aquele momento de concentração em que não percebemos nada além do que estamos criando.
Como parâmetro, para ver e ouvir alguém, com compreensão de significado e sentido, usamos metade de toda a nossa capacidade de processamento: aproximadamente 60 bits por segundo. No assunto, recomendo o livro “The Organized Mind”, de Daniel J. Levitin. O “flow” que Csikszentmihalyi descreve é um estado de concentração e de entrega total à atividade que estamos fazendo – a tal ponto que não sentimos sede, fome, não percebemos a presença de outra pessoa, esquecemos que temos corpo – ou seja, se você convive com alguém criativo que, quando está trabalhando, te ignora, não fique chateado. A gente simplesmente não tem capacidade de processamento suficiente para criar e te ouvir ao mesmo tempo. Estamos no “flow”.
Artista Plástica e Escritora
Doutora em Educação, Arte e História da Cultura
Professora de História da Arte no Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo
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