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A cada hora, quatro meninas de até treze anos são estupradas no Brasil, segundo o Fórum de Segurança Pública. Em 2019, 17 mil crianças foram vítimas de violência sexual, sendo que em 2018, haviam sido 32 mil crianças abusadas. Se estes números são assustadores, pensar que a maioria dos casos ainda não está nesta estatística – porque as sobreviventes não têm condições de registrar ocorrência policial –, é de alarmar, e exige um posicionamento. A maioria dos estupros (73%) acontece dentro da casa da vítima, de acordo com Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Em 2020 foi criado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes (Lei Federal nº 9.970/2000), e a pergunta que fica é: e agora? Os abusadores e assediadores irão pensar duas vezes antes de agir? Difícil de acreditar.
No livro de 2018, “Feminismo é Para Todo Mundo”, Bell Hooks dedica um capítulo para tratar sobre como a noção de “violência doméstica” é uma das intervenções positivas do feminismo contemporâneo. Em entrevista à Rede Teia, Sheylli Caleffi – coordenadora do grupo de apoio à vítimas de violência sexual, de nome “As Incríveis Mulheres que Vão Morrer Duas Vezes” –, nos chama a falar sobre estupro: “eu defendo que a gente fale sobre isso no bar, alguém chegue e me pergunte: ‘Sheylli, você está bem?’, ‘Ah, não muito, porque eu fui estuprada’”.
Falar sobre estupro tem de deixar de ser tabu, não pode virar assunto só quando famosos são acusados; até porque, a maioria tem o poder e os recursos necessários para fugir do julgamento e da condenação – e, ainda, culpar a vítima. Estupradores, assediadores e abusadores são estruturalmente protegidos no Brasil, porque as sobreviventes não conseguem denunciar: a maioria teme ser desacreditada ou, mais ainda, tem medo de morrer.
Jornalista
Mestre em Comunicação e Linguagens
Professora de Jornalismo na Universidade Positivo
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