***Vol. 1, Nº 005 / 2020 - 15/12 (AMOR) *Sociedade Letícia Lanz

A Economia do Cuidado

Letícia Lanz

Ao longo da história, o individualismo tem sido um traço muito persistente da cultura patriarcal-machista. Não são poucos os pensadores que reivindicam a competição e o desejo de dominação como marca do processo civilizatório. Platão diz que “o homem é o lobo do homem”, ideia que Thomas Hobbes ampliou ao extremo, falando da permanente “guerra de cada homem contra cada homem”. Nietzsche desdenha totalmente do altruísmo – ou seja, do interesse e dedicação aos outros –, dizendo que essa é a marca dos fracos. Freud, por sua vez, afirma ter encontrado muito pouco de “realmente bom” entre os seres humanos em geral.

Embora seja, em si mesmo, o grande sabotador da vida em sociedade, na economia do mercado o individualismo é um comportamento enaltecido e altamente promovido como uma virtude – o que leva as pessoas a admitirem sociopatias graves (como egoísmo, narcisismo, subjugação e exploração do outro) como formas “perfeitamente aceitáveis” de vida em sociedade.

Ao contrário dessa visão altamente tendenciosa e convencional, todos os estudos aprofundados – e mesmo as simples observações da nossa realidade diária – mostram que a sociedade em que vivemos está estruturada com base num grau incrivelmente elevado de interação e cooperação entre as pessoas, que constituem a base de uma economia invisível, chamada economia do cuidado, que existe há milhares de anos e que é praticada essencialmente pelas mulheres. A esmagadora maioria da sociedade se move a partir de motivações absolutamente desinteressadas, amorosas e altruístas.

Para nos tornarmos pessoas adultas, precisamos que alguém cuidasse de nós, praticamente em tempo integral; horas de trabalho intenso envolvendo alimentação, higiene, acompanhamento, educação, saúde e educação, entre inúmeras outras tarefas. É a “economia da cooperação” que faz andar a “economia da competição”, não o contrário; sem a participação efetiva das pessoas, o mercado simplesmente pararia de funcionar. É o amor pelo outro – não o ódio – que move a economia. É o trabalho cooperativo – não a competição – que faz o mundo girar.

Letícia Lanz

Psicanalista e Economista
Mestre em Sociologia, e em Administração de Empresas
Candidata a Prefeita de Curitiba
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