***Vol. 1, Nº 005 / 2020 - 15/12 (AMOR) *Cultura Guilherme Wski

Meu Sonho Era Ser Domancè

Guilherme Wski

Sade – o distinto Marquês dos devassos – deu vida a Domancè, um personagem da mais infame e degenerada índole, carrasco dos românticos e agitador dos perversos. Ele não se apaixona ou ama e, talvez, por isso que não ganhou espaço junto aos inesquecíveis. Já Valmont, o Visconde estonteante criado por Pierre Choderlos de Laclos, viveu em “Ligações Perigosas” uma paixão tão sublime, que foi imortalizado como símbolo de que o amor pode mudar o mais irredutível dos degenerados.

Amar como na literatura é difícil, e faz parecer impossível encontrar alguém que possa ou queira dividir a sua vida com o outro. Visto o nosso momento – em que estamos separados pelas telas e por um vírus (maldito!) – viver um amor destes fica ainda mais inacreditável. Acredito que seria melhor conseguir ser como Domancè, irredutível na maldade; porém, contra todas as minhas vontades – ou, contra todos os meus desejos mais sombrios –, a minha alma é boêmia (de pais parnasianos) e, então, eu jamais conseguiria.

O amor é guia e busca, é a falta para os psicanalistas e é o todo para os apaixonados, é indefinível e, também, a nossa definição, é único para alguns e múltiplo para outros, é o brilho e o sangue no olhar, é movente e paralisante ao mesmo tempo; por ser tão simples e complexo, tão ambíguo de si mesmo, eu te digo – ame!

Guilherme Wski

Filósofo
Graduando de Psicologia
Escritor
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