***Vol. 1, Nº 003 / 2020 - 17/11 (IGUALDADE) *Sociedade Sandra Nodari

A Igualdade Fica Para a Próxima…?

Sandra Nodari

Virgínia Woolf, no livro “Um Teto Todo Seu” de 1929, explica que para uma mulher trabalhar como escritora precisava ser rica: “uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, um espaço próprio, se quiser escrever ficção”. Ao entender seu lugar de privilégio, agradece a uma tia que lhe deixou uma herança. Em 20 de agosto deste ano, Guga Chacra comentou no Twitter: “fui aprovado no trainee (do Estadão). Eram 2000 candidatos e oito vagas. Houve uma série de provas escritas e orais, além de entrevistas. Não teve nada de privilégio”, e… Por que teria, não é? Apesar de ter escrito sobre privilégio branco, em 10 de junho, acerca da morte de George Floyd, parece que o jornalista não compreendeu aos seus próprios privilégios.

As marcas sociais de desigualdade nos mostram que somos tidos como desiguais pela cor da pele, pela identidade de gênero, pela classe social, etc. O privilégio da classe social, por exemplo, permite “comprar” o estudo em boas escolas, as aulas de inglês e o atendimento em hospitais particulares, como explica o repórter Caco Barcellos em suas palestras pelo Brasil. Em 10 de setembro, Guga Chacra voltou a tratar sobre o tema de privilégio no Twitter, ainda de forma irônica: “numa rede social disseram que eu sou privilegiado por ser judeu e carioca da zona sul do Rio. De ser judeu, até entendo a confusão, sendo de origem cristã ortodoxa libanesa e falando de Israel. Mas carioca c/ meu sotaque de paulista e palmeirense? De onde a pessoa tirou isso?”.

Curiosamente, a palavra privilégio foi usada pelo jornalista em postagens seguidas, mas não no sentido de propor a compreensão sobre o tema; talvez, por não ter realmente o entendido. Indicaria para ele autoras como Grada Kilomba, Gayatri Spivak e Angela Davis, que são fontes necessárias para buscar uma melhor compreensão. Também temos Sueli Carneiro que, já em 2000, dizia que a igualdade é uma pendência que fica para as novas gerações – e, ao que parece, ficará mesmo.

Sandra Nodari

Jornalista
Mestre em Comunicação e Linguagens
Professora de Jornalismo na Universidade Positivo
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