- Indicação de filme relacionado: ELE NÃO ESTÁ TÃO A FIM DE VOCÊ
Uma peça de teatro que amo é a “Entre Quatro Paredes” de Sartre, um filósofo tão bambambã de meandros do século passado que também foi citado nesta edição por outra colunista. Sem dar spoiler, a história é sobre três pessoas que morreram e, sem entender muito do porquê, ficam presas em uma sala. É dela uma frase que, talvez, você até já conheça: “o inferno são os outros” – geralmente usada de modo errado, no sentido de que “ai, que gente mais chata”.
Sobre o que ela realmente trata, porém, é muito mais interessante: somos por meio do olhar daqueles que nos olham, tanto que em uma parte da história uma das personagens fica obcecada em se enxergar no reflexo da retina da outra (já que na sala não há espelhos ou, muito menos, câmeras de celulares). Como fica a nossa liberdade, então, se dependemos do outro até para sermos nós mesmos? Se, ironicamente, na própria filosofia de Sartre “somos condenados a ser livres” – como podemos simplesmente ser, livremente, ao sermos pelo olhar dos que mais queremos que nos olhem?
Só há pouco tempo (principalmente, desde a pandemia e o isolamento) é que finalmente entendi que o mais importante é nos reconhecermos como o nosso “primeiro olhar”, o que deve estar antes de todos os demais. A ideia é que devemos nos tornar tão responsáveis por nossas próprias escolhas que, a partir delas, possamos mesmo “ser” – e, então, estar em paz – em um “primeiro olhar” tão amoroso, que seja liberto do olhar dos outros e, só assim, possa ser olhado (e, talvez, até amado?) livremente.
Relações Públicas e Publicitária
Doutora em Comunicação e Linguagens (pós-doutorado em educação)
Editora-chefe da Revista de Bamba
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