***Vol. 2, Nº 008 / 2020 - 28/01 (PRESENTE) *Saúde Lidia Domingues

A Ansiedade do Agora

Lidia Domingues

A morte sempre chega perto, bem perto. Deixa o corpo sofrendo com isso, sem entendimento do que significa tanta proximidade. Sobreviver a ela não parece nada compensador, tamanha é a dor e o desconforto. O sono não chega, o medo continua constante, a preocupação exagerada, a irritabilidade sufocante, nada dá um mínimo de trégua. São os mesmos sentimentos diariamente, e pode parecer dramático para quem olha (nunca olham, mas julgam) de fora; mas toda essa agonia é real e pesada para quem tem transtorno de ansiedade – transtorno gente –, aquele que modifica, altera, transforma seu dia. O bagulho é doido e acontece toda porra de hora!

Nesses momentos, sempre surgem dos buracos de bueiro as pessoas que participam da “Comissão Nacional do Pitaco na Vida Alheia”. São da família, amigos e vizinhos e, principalmente, a monja Zazen com o seu “inspira, expira, respira” – “é preciso estar presente no presente, em tudo que se faz”. Ela continua, “inspira, expira”, repetindo tudo umas oito vezes, no meio de tudo, ainda reforça com um “viva o momento, preste atenção no caminho que sua respiração faz, perceba seu corpo, viva o agora”. Assim deve ser em tudo no seu dia a dia, explica pacientemente ela.

Difícil de aguentar e explicar que estou acatando tudo direitinho, monja? Viver o meu presente e perceber o meu corpo é tudo o que faço. Liberta de pensamentos descontrolados de caráter negativo, que muitos juram ser o que consome o meu dia – mas, não é.  Mesclo tudo com música boa, a todo volume nos fones que já parecem fazer parte dos meus ouvidos… “I can’t get, no, satisfaction”. Comer brócolis, muita laranja e fibras em grãos para a constipação do intestino, driblar a memória que insiste em falhar diante daquele objeto amarelo, e respirar. Sim, respirar agora é possível e, talvez, até consiga meditar sentada, como um descanso (e não uma salvação) do presente. Relaxar, apesar do dia, e crer firmemente que temos que viver um de cada vez.

Lidia Domingues

Letróloga
Especialista no Ensino da Literatura Brasileira Contemporânea
Autora do Livro de Contos “Lascas Lascadas”
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