***Vol. 2, Nº 008 / 2020 - 28/01 (PRESENTE) *Saúde Flavia Fachini

Machismo, Presente!

Flavia Fachini

São consideráveis os casos de violência contra as mulheres que chegam como demandas de atendimento no âmbito da saúde mental. Muitas mulheres apresentam sofrimento emocional grave ou moderado por conta das suas vivência em episódios violentos em razão de gênero. Elas narram episódios vivenciados em relações abusivas nas quais são presentes: o controle do corpo da mulher, estupro, violência moral, psicológica e econômica. Uma das mulheres atendidas contou que o ex-esposo a “mandava caminhar”, pois considerava que ela não atendia aos padrões de magreza entendidos por ele como o “ideal”. Após a separação, o assédio e a perseguição por parte dele tornaram-se recorrentes. Outra, ainda nesta semana, relatou que foi estuprada em um encontro marcado pelo aplicativo Tinder.

Nos últimos meses, outro fenômeno interessante é o do aumento de atendimentos a homens, autores de violência contra as mulheres, com sofrimento emocional em razão de gênero, relacionado a estereótipos do que é “ser homem” em uma sociedade estruturalmente machista. Com a pandemia muito foi perdido: o emprego e, com isto, a ausência de renda para as famílias – e para os homens, a identidade de ser o principal provedor da casa, o “trabalhador” e, consequentemente, o cumpridor de sua função social.

Foi percebido o aumento dos conflitos e das violências nas relações familiares, devido a intensificação do convívio. Muitos dos homens usam de “recursos” socialmente aceitos para lidar com o sofrimento mental, sem aparentar “fragilidade”: recorreram ao uso de álcool e de substâncias psicoativas, com o fim de “anestesiar-se” do contexto caótico que assola ao nosso país.

Muitas das demandas emocionais estão relacionadas com separações matrimoniais e, então, com a perda de uma “posição de poder” que era dada pela submissão de sua, agora, ex-esposa. Solidão, pensamentos de morte por conta da perda do trabalho, das relações e da posição social – tudo demonstra que, para que seja possível a diminuição da violência contra as mulheres, é necessário investimento na educação também dos homens, com a devida atenção à sua saúde mental. Só assim teremos, mesmo, a desconstrução dos estereótipos de masculinidades e feminilidades que nos fazem tão doentes.

Flavia Fachini

Assistente Social CRESS 10.199
Mestre em Tecnologia e Sociedade
Assistente Social no Centro de Atenção Psicossocial
Instagram / Lattes

Posts Relacionados