Entendo quando as pessoas dizem que precisam de uma válvula de escape para suprir as suas dores ou tristezas. Só não aceito quando optam por fugir da realidade (drogas e álcool), pois é uma mentira que a pessoa conta para si mesma. O que me levou a comer em demasia e, então, ser gorda? Hereditariedade, com certeza; mas, ainda assim, nenhum gene me deu comida na boca. Eu que comi, eu que escolhi quais os alimentos, eu que mastiguei e fiz da gula a minha companheira do dia a dia. Quando um corpo maior me fez sofrer com o bullying, lá fui eu para outra válvula de escape… Estudar compulsivamente para ser a melhor.
A escolha da “válvula de escape” é muito importante. Temos que ter a consciência de escolher algo que não nos cause outra dor. A minha escolha – em de ser a primeira aluna da turma – me trouxe outro problema: estresse cardíaco. Morrer disto eu não iria, segundo o cardiologista, mas pensando em minha qualidade de vida, eu deveria “puxar o freio de mão”. Não puxei pois, adolescente, eu ainda não tinha maturidade. Foi só na faculdade que entendi, com a ajuda sempre certeira da Vovó Benta, que não era o quanto eu tirava de nota na prova, mas o quanto o conhecimento me agregava. Não foi fácil. Que lições eu tirava para mim?
A “válvula de escape”, que começou com a comida e que terminou gerando a obsessão no estudo, me fez ter dois problemas: obesidade e estresse. Talvez, o melhor caminho então, seja não tentar escapar. A “válvula” perde o sentido e, então, o valor, quando estamos em equilíbrio: vivendo, aprendendo tudo o que for possível diante de tantas coisas boas e ruins, mas jamais esquecendo de desfrutar das coisas simples, tal como o aroma de um café fresco ou o sorriso de um filho. Não saberíamos o que é felicidade se já não tivéssemos saboreado a tristeza. Não daríamos valor a saúde se nunca ficássemos doentes. Não saberíamos diferenciar o que é dia sem a noite, e tantas outras coisas que se opõe. Que sejamos capazes de viver com amor em todas as situações.
Cake Designer e Professora de Confeitaria
Dirigente Espiritual (mãe de santo) do Terreiro de Umbanda Vovó Benta
Proprietária da Dallastra Bolos e Doces Artísticos
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