O número de denúncias de abuso infantil diminuiu 29% com o isolamento social. Também houve redução no atendimento de crianças vítimas de violência sexual no Hospital Pequeno Príncipe durante a pandemia. Podemos comemorar estas quedas? Não! Os registros podem ter diminuído porque as crianças não estão indo para a escola, lugar “onde as violências são percebidas e denunciadas” – de acordo com os dados que foram levantados pela jornalista Mauren Luc, publicados no Jornal Plural em Outubro. A cada oito minutos uma mulher foi estuprada no Brasil no ano passado, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Você que está lendo este texto, certamente, conhece alguma destas vítimas. Tente lembrar de uma mulher ou de uma criança próxima a você que tenha sido vítima de violência sexual. Não se lembra?
Por que será que nenhuma das meninas ou mulheres que você conhece teve confiança para desabafar sobre assédio ou violência sexual? Por que confiam na professora da escola, e não em você, para pedir apoio ou, até mesmo, ajuda para denunciar? Tem mais: você conhece, também, os agressores – já que 84,1% deles são familiares (ou pessoas próximas, “de confiança”) das sobreviventes. Você convive com vítimas e com abusadores, e precisa escolher um dos lados. Se a pauta do texto é sororidade, você pode começar a praticar este sentimento apoiando mulheres; e, não, as julgando ou procurando se teriam alguma parcela de culpa, como é tão comum de acontecer.
Pode, também, denunciar assediadores e agressores, mesmo que por meio de denúncias em segredo para outras mulheres (pensando em as proteger, evitando que se tornem outras vítimas). Idealmente, você pode fazer denúncias formais na delegacia; porém, é preciso saber que, por lá, nem sempre a sororidade pode estar presente por parte de quem recebe as queixas – mas, este, pode ser o tema para outro texto.
Jornalista
Mestre em Comunicação e Linguagens
Professora de Jornalismo na Universidade Positivo
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