Quando penso em felicidade, penso em duas questões que já vi envolvidas ao pressuposto sentimento: a vida não está passando inutilmente, e é um estado durável de plenitude. Genteee! Como vivenciar, sentir, acreditar ou visualizar estas duas situações em nossas míseras vidas terráqueas? Muito difícil mesmo ser feliz, já que não tenho a plenitude de ser útil à humanidade. Se penso no que uma sociedade capitalista como a nossa determina o que precisamos ter para sermos felizes? Tudo tende a piorar. As exigências acabam sendo inalcançáveis. Ser feliz dependerá da casa sempre maior, do carro que aparece no comercial da televisão ou o número de viagens que faço ao ano.
A felicidade tem um código de barras, com absoluta certeza. Essa busca ensandecida por este sentimento, num país como o Brasil, com a nossa fama de alegres e felizes sempre, já nos levou ao primeiro lugar no ranking de medicamentos. Viva a felicidade que o Rivotril pode causar. Triste a dor que o abuso a um medicamento nos leva. Bem-estar, paz interior, felicidade plena, são afrontas determinantes do fundo do poço passível e possível de encontrarmos. Melhor é ficar no aprendizado que a vida me traz e entender que são momentos felizes, nada mais que momentos felizes o que podemos encontrar.
O autoconhecimento (doído e difícil de conseguir) é o que faz estes momentos existirem. Observar, esperar e aproveitar o que se tem. Perceber que, mesmo no caos da mudança – nas caixas por abrir, nas roupas empilhadas, no chuveiro que não funciona e gela nesse frio, nos livros que você acreditava que eram em maior número (o que dá uma sensação de tristeza), no técnico que não chega, e naquela dor que a coluna terá no fim do dia – é justamente aí que está a felicidade. Felicidade é liberdade, é poder escolher. Olhar pela janela e saber onde se está, e que é ali que se deve estar.
Letróloga
Especialista no Ensino da Literatura Brasileira Contemporânea
Autora do Livro de Contos “Lascas Lascadas”
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