***VOL. 2, Nº 012 / 2021 – 24/03 (IGNORÂNCIA) *Sociedade Anísio Pereira

Sabemos Uma Gota, Ignoramos Um Oceano

Anísio Pereira

Ao longo da vida o indivíduo adquire, de várias formas, muitos conhecimentos: seja pela imagem, pela leitura ou pelas experiências do dia a dia. Desde a infância – fase de inauguração do contato do ser humano com o mundo (e da própria aquisição da linguagem) – o ser vai percorrendo esse caminho da sabedoria. De início, apreende-se os saberes gerais, até se chegar à formação acadêmica e afunilar o seu conhecimento em determinado campo do saber.

A relação com o âmbito escolar proporciona um direcionamento para se chegar ao conhecimento desejado, o mínimo que seja satisfatório para o exercício da cidadania, bem como para se tirar uma boa nota no ENEM, ser aprovado no vestibular, ter acesso à universidade, etc. Na concepção que parte do saber científico, os conhecimentos só são apreendidos no espaço escolar, um estereótipo resultante do funcionamento da sociedade, em que aquele que sabe muito exerce o poder sobre os que não sabem, ou que sabem pouco. Esta observação se fundamenta na própria concepção da estrutura econômica, pela lógica de mercado; uma vez que só adquire uma profissão de prestígio e “vence na vida” aquele que se forma, isto é, que “sabe muito”.

É preciso lançar um olhar para outra direção, no sentido de se compreender a relação do indivíduo com os saberes que se dá de várias formas, espaços e momentos na sua história. Essas diferenças ganham sustento do ponto de vista da constituição do sujeito, que vai se moldando à medida que acessa os conhecimentos no cotidiano. Não significa que aquele “menos estudado” não sabe nada, ou que ele pode ser qualificado como ignorante. Não é possível medir o conhecimento adquirido com uma régua, pois todos os sujeitos se constituem por distintas práticas discursivas. No processo de formação sempre há falhas, uma vez que a incompletude é própria à formação do sujeito.

Por fim, faz-se necessário salientar que todos portam da ignorância, em menor ou maior grau, haja vista que ninguém sabe tudo e não há um ser humano que não saiba algo. É tudo questão de se considerar útil, ou não, um determinado conhecimento – frente à lógica do capitalismo. Para se “vencer na vida”, porém, em especial na esfera profissional, é fundamental reduzir a ignorância e deixar fluir a sabedoria – e as lacunas são uma constante necessária ao processo nesse contexto. Afinal, será que vale mesmo alguém ser “dono da verdade”?

Anísio Pereira

Doutorando em Estudos Linguísticos
Professor
Escritor
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