***Vol. 2, Nº 011 / 2021 - 10/03 (SABEDORIA) *Sociedade Carolina Vigna

Resistir é Saber

O que é sabedoria? As definições normalmente falam de um conhecimento erudito, um saber envolto em uma aura de refinamento cultural – uma definição tola. Há sabedoria no popular, no inculto, no iletrado. A erudição é o conhecimento, que não necessariamente anda de mãos dadas com a sabedoria. Como sempre, a cultura da literatura e dos memes hão de me salvar: “Conhecimento é saber que Frankenstein não é o monstro. Sabedoria é saber que Frankenstein é o monstro.”

Essa diferenciação entre conhecimento e sabedoria, em um mundo onde as pessoas usam máscaras como brincos ou golas rolês, pode parecer de uma importância menor. Muitos de nós fomos educados com o pensamento da urgência, da sobrevivência, daquilo “que realmente importa”, como botar comida na mesa e outros lemas igualmente arcaicos. O pensamento, portanto, fica em segundo plano. É essa estrutura de raciocínio que leva a comentários como “pessoas morrendo e você pensando em filosofia”. A grande questão é que sem a filosofia, continuaremos a apenas sobreviver, sem viver. É o pensamento – e, consequentemente, a sabedoria – que nos dá ferramentas para transformarmos o mundo à nossa volta. Em um mundo de Fake News e “fake pessoas”, uma publicação como a Revista de Bamba é um ato de resistência. Resistir é sábio? Não sei, tenho cá minhas dúvidas, mas… Resistir é necessário.

Exercer a resistência intelectual ao manter uma publicação como a nossa, em um Brasil comandado por alguém que desdenha da nossa morte – e afirma que uma vacina nos “transformará em jacarés” – é, antes de tudo, um ato de bom senso. O esforço em se manter são e em persistir pelo bom caminho encontra paralelo em iniciativas como a James Joyce, escrevendo no meio da guerra, ou mesmo Monet pintando florzinhas. A literatura, a arte, a filosofia, o pensamento e a reflexão servem exatamente para nos salvar de nós mesmos.

“Se você acha que a instrução é cara, experimente a ignorância”, já dizia o velho Benjamin Franklin. Certa de que ele perdoaria a minha ousadia, parafraseio: “Se você acha que a resistência é difícil, experimente calar-se”.

Carolina Vigna

Artista Plástica e Escritora
Doutora em Educação, Arte e História da Cultura
Professora de História da Arte no Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo
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