2020 nos jogou numa quarentena sem fim. O tempo assumiu uma outra dimensão, as horas no relógio deixaram de ter o sentido do tempo. Todos nós, que pertencemos a uma humanidade real, que sofre, nos deparamos com problemas nunca antes imaginados. Nos deparamos com o absurdo, e com a revolta diante do absurdo. 2020 lançou o desafio no melhor estilo Schopenhauer: como suportar uma verdade insuportável e, ainda assim, manter o sonho e a altivez?
2020 foi de noites insones, um enredo de filme com roteiro ruim, cansativo de assistir porque nenhum em nenhum episódio houve uma resolução. Um filme que misturou a vida dos brasileiros com a política mais cruel: a necropolítica. 2020 foi o ano da exaustão. A política brasileira nunca foi tão nefasta, tão desumana, tão cansativa, e tão doente.
2020 foi o ano do deus Tártaro – da mitologia grega, que personifica um lugar inferior, de gente muito pouco inteligente, má e com elevado nível de incapacidade para a alteridade –, com profundo nonsense da realidade. 2020 foi não foi um filme de terror pois, este, tem um começo, um meio e um fim, no qual podemos suspirar de alívio em um “ufa, acabou”; pelo contrário, ficamos encurralados e sem saída.
Que 2021 possa ser a saída real de 2020, e que este se transforme – finalmente! – no passado, com toda a sua ineficácia e incompetência. Que 2021 seja o novo presente, em que os instantes que vão formando o passado sejam “presentificados”, sempre como o ano da restauração.
Que 2021 seja regido pelo quarto deus da mitologia grega, Eros, o deus da energia vital, aquele que permite a todas e todos viver. Antes disso, é preciso que Cronos, o deus do tempo, castre Urano – para que este cesse de fornicar, “foder” com a Terra. Que 2021 tenhamos de volta a nossa temporalidade, cadenciada no ritmo de uma humanidade sã.
Cientista Social
Mestre em Sociologia
Professora de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda na Uninter
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