O marco que ultrapassamos, das 300 mil mortes, exige uma pausa para a reflexão. Em janeiro deste ano, a contagem estava em 200 mil. Em pouco mais de 45 dias, aumentou 50 mil (de 250 mil para 300 mil, passou-se apenas um mês). A velocidade que nos fez saltar de um recorde a outro tem nos deixado tão atordoados que temos o dever de sempre reiterar que são pessoas que estão morrendo. São homens, mulheres e crianças – pais, mães, filhas e filhos – todas e todos, amores da vida de alguém. Por mais doído que seja olhar para isso cotidianamente, é necessário prestar respeito aos que se vão e dirigir uma palavra de conforto a seus familiares.
Em homenagem à memória de cada uma dessas pessoas, é necessário perseverar no propósito firme de mudar esse cenário tão assustador. O presidente Jair Bolsonaro não tem se mostrado à altura dessa tarefa, e o recém-empossado ministro da Saúde Ricardo Queiroga até mesmo tentou manipular as estatísticas para diminuir o número de mortos. Precisamos começar com vacinação em massa, isolamento de verdade e auxílio em valor suficiente para combater a fome.
É estarrecedor que mais da metade dos domicílios brasileiros esteja vivendo atualmente em situação de insegurança alimentar. Segundo o “Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia”, produzido pela “Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar”, 19,1 milhões de brasileiros em 52,2% dos domicílios convivem com a fome. Com a inflação dos alimentos, tanto o “Auxílio Emergencial” do Governo Federal (pago em menor valor e por menos tempo), quanto a “Renda Básica Emergencial Municipal” (de R$100 por pessoa, máximo de R$ 200 por família, prevista para três meses), não dão conta de prover a subsistência de milhões de pessoas.
Diante desse cenário devastador, diversas organizações da sociedade civil têm promovido campanhas voluntárias para oferecer refeições e cestas básicas nas mais diversas regiões. Por outro lado, como vimos na “Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos”, as ações para prover alimentos e refeições ainda são muito insuficientes, sobretudo agora em virtude do desemprego e do número crescente de pessoas em situação de rua. É preciso que ser apresente respostas mais contundentes para garantir a segurança alimentar de todos. Seguirei acompanhando e cobrando de perto a situação da fome.
Vereador de São Paulo
Já Atuou Como Deputado Estadual e Federal
Ex-secretário de Direitos Humanos e Cidadania
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