Somos diferentes. Cada ser humano que povoa esta Terra é singular e motivado por razões singulares, assim como também o são as suas habilidades e necessidades; portanto, quando falamos de igualdade, ela tem a ver com a qualidade genuína que todos nós temos. Independente das oportunidades, da possibilidade de nos desenvolvermos ou, mesmo, de nossos pertencimentos dentro de uma sociedade: interferimos nela, e a nossa contribuição é intransferível. Em desdobramento lógico, somos igualmente necessários no conjunto de forças que permeiam a vida, em todos os âmbitos.
A expressão antiga “levar a vida na flauta’’, frequentemente utilizada de modo pejorativo, tem por trás a intenção de insultar o ofício do músico, por insinuar um fazer de pouco valor e de pouco esforço, o julgado erroneamente como menos importante – como, aliás, tantas outras funções e fazeres reguladores e também fundamentais. Nós, artistas, lidamos com este desdém todos os dias, apesar de séculos de caminhada rumo à validação do patrimônio cultural. Afinal, pra que servem os artistas? Que triste seria a vida se simplesmente acordássemos para ir trabalhar (muitas vezes, em empregos que não gostamos): alimentação, banho, pagar o aluguel e as outras contas e, por fim, deitar e dormir – sem habitar as nossas horas, também, de forma lúdica. Em uma vida só objetiva (aquela, tão aplaudida pelos caretas), todas as atividades tidas como “não fundamentais” à sobrevivência do corpo físico estariam menosprezadas, junto da nossa subjetividade.
O que nos torna iguais é a possibilidade de existir e de nos expressar, apesar do mundo e, às vezes, até de nós mesmos. Cada um de nós compõe uma fatia deste enorme bolo humano, do qual todos igualmente fazemos parte; porque não é só de pão e água que vivemos, nem só de médicos ou advogados – mas, de muito mais: de toda a palavra, trabalho e expressão de que a alma necessita e anseia.
Musicista (violoncelista)
Ministrante de Cursos em Educação Musical
Idealizadora do “O Movimento do Som”
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