***VOL. 3, Nº 013 / 2021 – 17/04 (TEMA LIVRE) *Cultura Luciano de Sampaio

Para Não Dizer Nada

Luciano de Sampaio

Uma das situações mais difíceis de encarar como escritor/colunista é a frase: escreve sobre o que você quiser, o tema é livre. Essa dificuldade vem claramente da vontade de fazer um texto foda e que acrescente algo à audiência que frequenta aqui a Bamba; pois é, esta situação é a situação desta edição. Estou aqui me batendo para descobrir sobre o que escrever ao mesmo tempo em que digito essas linhas de introdução.

Eis que uma ideia desponta! Já que posso falar sobre qualquer coisa, que tal falar sobre o nada? Esse ente que está sempre presente, justamente pela própria ausência. O nada é uma questão que com certeza foi abordada por gente com muito mais bagagem do que eu: filósofos, escritores e etc. já devem ter olhado para o abismo esperando descobrir o que olharia de volta. Eu, particularmente, acho que é aí que está a atração maior do nada sobre quem está sempre cercado de algo: quem ou o quê estará lá do outro lado? Como é “estar no mundo” onde esse mundo não é formado de coisa alguma?

Minha mente, por mais criativa que seja, não consegue conceber tal local, mas me veio um paralelo com uma série de livros que terminei de ler recentemente chamada “Crônicas de Amber”, do Roger Zelazny. A história é enrolada, difícil de acompanhar em vários momentos; mas, no seu âmago, é uma disputa primordial entre as forças da estabilidade e do caos. Apesar das “Cortes do Caos” não receberem tanta atenção quanto Amber (cidade arquetípica onde está o “Padrão da estabilidade”, da qual quase todas as outras cidades no multiverso são “Sombras”) – no pouco que se mostra daquele lugar pode-se imaginar um ambiente extremamente hostil, com circunstâncias mudando a cada instante. Imagino eu, então, o quão mais hostil seria estar num lugar onde nem mesmo existe algo a ser alterado…

Luciano de Sampaio

Fotógrafo
Mestre em Comunicação e Linguagens (UTP)
Professor de Comunicação Visual na Universidade Federal de Rondônia
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