Conhecer é agarrar o fixo na mobilidade do mundo. De certa forma, o conhecimento é um êxtase, uma parada e, nesse sentido, ele nos empurra para fora do escoamento constante de nossa experiência. Ainda que tenha o seu começo na experiência (o que nem sempre acontece), o conhecimento pode se afastar tanto dela que, em algum sentido, conhecer pode ser reduzido apenas ao ato de obedecer corretamente a uma ordem, ou executar precisamente uma tarefa.
A sabedoria é de uma ordem bem distinta. Ela é, na verdade, a arte de lidar com a mutabilidade do mundo, com a duração que caracteriza o verdadeiro campo de experiência, sem arredar pé do movimento. Por conta disso, o sábio é muitas vezes estranho e desobediente, incomum pelo menos. Não que a sabedoria seja rara, mas o que ela sabe é único e escoa junto com o mundo – o tempo todo girando, o tempo todo se desfazendo em novas cenas. A sabedoria não se acumula nem pode ser entesourada: quando ela não se exerce desaparece, e o que ela deixa como rastro não são ordens nem tarefas, mas imagens (incompletas) para ser decifradas – e, de alguma, forma editadas – por quem as recolhe.
O conhecimento reduz a experiência, a sabedoria a devolve ao fluxo do qual foi tirada. O conhecimento fixa a linguagem (a significando em definitivo), a sabedoria cria palavras escorregadias e flutua como fumaça. O conhecimento explica, a sabedoria mostra. O primeiro se aprende, a segunda se conquista devagar, e quase nunca o sábio se reconhece como tal – ou melhor, quem se reconhece como sábio já fornece um mau sinal a respeito do estado da sua sabedoria.
A lista de contrastes entre as duas coisas seria enorme e, até certo ponto, tediosa… É por conta disso que o sábio vai a cada passo se tornando mais silencioso e, no fim, o que é a sabedoria senão a capacidade de olhar a paisagem e comentar com apenas um sorriso?
Filósofo
Doutor em Filosofia
Professor de Filosofia na Universidade Federal do Paraná
Facebook / Instagram / Lattes