Quem cresceu nos anos 80 do século passado dificilmente passou ileso ao advento da trilogia Karatê Kid. Os mais afoitos provavelmente tiveram, pelo menos, um membro quebrado treinando o golpe da águia em cima de um tronco ou de um muro. Recentemente a Netflix passou a exibir e produzir a série Cobra Kay, que reacendeu a velha chama nos hoje quarentões – angariando mais uma porção de jovens fãs. Quando recebi a incumbência de escrever sobre a pauta de Sabedoria a primeira coisa que me veio à mente foi a figura do Senhor Miyagi, zelador ex-combatente da Segunda Guerra Mundial.
Cultivador de bonsai e, durante boa parte do tempo, “babá” de Daniel Larusso – o jovem teimoso, egocêntrico (mas de bom coração), vítima dos valentões do dojô Cobra Kai. Resolvi, então, rever os filmes da franquia, e me espantei em perceber que nos dias atuais me identifico muito com Miyagi. Fui um jovem como Daniel – o que é um pouco triste, levando em consideração que estou no lugar da velhice – mas, por outro lado, tirando as dores em partes do corpo que eu nem mesmo sabia que existiam, é um caminho para a subtração do tempo ao qual todos estamos condenados a seguir.
O que nos permite perceber as pequenas idiossincrasias cotidianas, potencializadas por um olhar que não é necessariamente mais calmo; mas, sim, de quem já viu muitos amanheceres. De tudo, creio que a sabedoria é percorrer este caminho e, usando a metáfora do fime, devemos nascer Daniel Sam e envelhecer senhor Miyagi, “pois se a raiz é forte, árvore sobrevive”.
Ator
Diretor de Teatro
Dramaturgo
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