Poderia ser uma piadinha – afinal quem está escrevendo é um anão! – ou, ainda, um grito das minorias; mas, o que vem de baixo é algo um pouco mais ao fundo, uma voz esquecida em todas as lutas. E os anões? Os baixinhos? Ainda hoje não temos uma representação e, mesmo que tivéssemos, seria algo puramente midiático, no qual o riso estaria sempre presente. Sim, eu exploro o meu lado anão e faturo com ele, procuro valorizar ao meu trabalho e cobro caro – e, até mesmo, me recuso a estar em certos lugares, para não associar a minha imagem com algumas pessoas – mas, nada vai ser o suficiente para que eu não seja apenas “aquele anão que fala bem”.
Somos uma minoria, tanto em números quanto em representação cultural. O sentimento é de que um anão, para as pessoas, só precisa de um palco para servir de entretenimento; mas, de onde eu vejo, nós precisamos de estudo, emprego e oportunidades. Nas vezes em que atuei em cargos de chefia, era nítido o espanto dos outros – e, por vezes, o desconforto – ao se depararem comigo, dando ordens ou a cartada final na decisão de assuntos estratégicos. Voz de comando que, em mim, foi um desenvolvimento de minha trajetória pessoal: sou filho de pais (biológicos) analfabetos e, aos meus sete anos, aprendi a ler e a escrever, o que me deu autoridade dentro de casa mesmo na infância.
Não me proponho ser um líder na causa, ou falar por todos os anões; mas, faço tudo para que outros anões consigam ver como eu – para que consigam conquistar os seus espaços por direito, fazendo com que as suas vozes vindas de baixo atinjam alto as orelhas do preconceito e da intolerância. Se tem um circo na minha vida, a única certeza que tenho é que o anão aqui não é a atração.
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