Nos últimos dias o mundo estava com os seus olhos voltados para o grande evento de posse do 46º Presidente dos Estados Unidos. Mesmo diante do impedimento de realizar o evento como de costume (por razões da pandemia da Covid-19), o esforço para manter a pompa e a circunstância da solenidade foi tamanho. O ritual de posse foi cercado de narrativas e simbolismos que transmitiram o tom do tradicionalismo estadunidense, por meio dos seus símbolos nacionais, bem como pelo tom conciliador e agregador proposto por Joe Biden (apresentado pela escolha das cantoras Lady Gaga e J. Lo, por exemplo). Foram utilizados inúmeros recursos considerados inovadores para transmitir um novo posicionamento da Casa Branca à nação e ao mundo.
A existência da vida humana é acompanhada pelo ato da narrativa, recurso essencial para a preservação da memória, construção da história e estruturação dos rituais sociais. Os estudos de mitologia colocam o ritual como uma forma de fixar memórias e narrativas, uma vez que regram um código de linguagem na vida social. É bastante comum associarmos o ritual com uma tradição, ou aquilo passado de geração em geração; ou, ainda, com o que é antigo e repetido (o que não está de todo errado). Acontece que o ritual é uma narrativa executada no presente e, por mais que carregue um caráter do sagrado mitológico, cabe a nós realizarmos a sua manutenção.
A vida é um ritual constante e o presente é a oportunidade de construirmos uma memória que não é feita simplesmente de repetição, pois o agora de hoje é a história e a tradição do amanhã. Quando percebemos que o ato de ritualizar é composto de uma primeira ação – na sua manutenção e, então, reprodução –, podemos considerar que os rituais e eventos já postos também podem receber novos protocolos. Por mais que “o passado não reconhece seu lugar: está sempre presente”, como dizia Quintana, devemos considerar que os nossos rituais e eventos (como ferramenta de comunicação e regulação da vida social), precisam se adaptar ao presente e, em harmonia com o “zeitgeist” – ou, o “espírito da época” – colaborar para uma narrativa que estabeleça conexões, e não o contrário.
Relações Públicas
Especialista em Eventos
Ganhador do Prêmio “Profissional de Relações Públicas do Ano de 2020”
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