Infelizmente, não é novidade; porém, por razões diferentes, ignoramos os sintomas manifestados pelo lugar onde vivemos e do qual somos parte. Há muito tempo cientistas já sinalizam que o nosso planeta está em desequilíbrio, ocasionando danos diretos e indiretos na saúde de todos. Não estamos apenas afetando outras formas de vida ou algo que está fora da sociedade, mas produzindo riscos e prejuízos que, em última instância, afetam a nossa própria existência. Se o ar, a água e os alimentos estão contaminados, como podemos imaginar que teremos saúde? O sistema agroalimentar dominante é baseado em monocultivos, geralmente dependentes de pacotes biotecnológicos, que constituem sementes geneticamente modificadas cultivadas com uso de agrotóxicos. A produção em grande escala de um só tipo de cultura reduz a biodiversidade e o uso intensivo de produtos químicos polui de diferentes formas a natureza, inclusive aquilo que acabará na nossa mesa.
A destruição das florestas e a queima de combustíveis fósseis contribuem para o agravamento das mudanças climáticas, que altera os regimes de chuva e intensifica eventos extremos, como temporais, ondas de calor, tufões e tornados. Passar por esses eventos impacta corpos, mentes e modos de vida, nem sempre sendo possível retornar àquilo que era antes. Além disso, a expansão de doenças e o surgimento de pandemias constam nas previsões dos especialistas, pois a perda da diversidade biológica causada pelo sistema atual, baseado em uma cultura de hiperconsumo, aumenta as chances de expansão de vírus e novas doenças infecciosas.
Assim, ao observar os sinais de adoecimento do planeta, damo-nos conta de que também estamos enfermos. As escolhas fundamentadas em um crescimento infinito nos trouxeram até aqui, mas não precisamos esperar a prescrição de um tratamento intensivo para entendermos que esse é um caminho fatal. Preservar e diminuir nosso impacto sobre os bens naturais são fundamentais para recuperar nossa relação com o ambiente.
Jornalista
Doutora (ganhadora do “Prêmio Capes de Melhor Tese de 2017”)
Professora e Consultora na Área de Comunicação Ambiental
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