***VOL. 3, Nº 014 / 2021 – 03/05-30/05 (FELICIDADE) *Cultura Luciano de Sampaio Primeira página

O Fiel da Balança

Luciano de Sampaio

Se o tema anterior (de falar sobre o “nada”) já tinha sido difícil, este mês escrever sobre a felicidade não ficou devendo. Muito se fala de que a felicidade é, na verdade, um conjunto de momentos fugazes que não voltam mais; que passam voando, e a gente que lute para reconhecer e aproveitar quando eles acontecem. Por outro lado, muita gente acredita num estado de espírito chamado felicidade que é quase uma iluminação nirvânica, em que a pessoa passa a viver feliz para sempre naquela condição.

Honestamente, eu não subscrevo completamente a nenhuma dessas duas visões. Minha percepção do que é felicidade é contextual. Seja em momentos fugidios e inagarráveis, seja em períodos de contemplação mais longos, felicidade é, para mim, necessariamente algo externo e, portanto, dependente do entorno. As coisas à sua volta, boas e ruins, numa balança etérea, julgam o momento como feliz ou triste, e invocam para você a sensação apropriada – e é o fiel desta balança que eu chamo de contexto.

Pode estar tudo uma merda, mas por algum motivo você encara tudo como uma chance de crescimento? Seu contexto é provavelmente de felicidade em alguma amplitude. As coisas estão dando certo, mas parece que ainda falta algo? Seu contexto é de tristeza e você, provavelmente, nem sabe por onde começar a lidar com tudo à sua volta. A duração destas percepções é o de menos – é o detalhe que gera motivação, ou a falta dela – mas é em como percebemos e atuamos em relação ao contexto (fiel da balança), dentro das múltiplas possibilidades que nos são apresentadas, que definimos se seremos ou não felizes de fato, dentro das nossas realidades possíveis.

Luciano de Sampaio

Fotógrafo
Mestre em Comunicação e Linguagens (UTP)
Professor de Comunicação Visual na Universidade Federal de Rondônia
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