A constituição do sujeito, na concepção do filósofo Foucault, aponta para as condições de possibilidade para a sua emergência; isto é, para os “regimes de verdade” (o que as pessoas acreditam que é real) de cada época. No âmbito das “práticas discursivas” – como as “verdades” são ditas – as subjetividades vão surgindo; nunca de modo fixo, pois sempre dependem das formações históricas de cada época para serem produzidas e, então, “re-produzidas”. Nesta perspectiva, cabe a seguinte indagação foucaultiana: “quem somos nós, hoje?”.
No contexto atual, observamos a circulação de uma cada vez maior gama de discursos. A pandemia da Covid-19, juntamente com a política nacional, são os discursos do momento. Uma guerra acontece nas redes sociais, tendo em vista a polarização política que se intensifica a partir de 2016 (quando do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff). Ambos os polos – direita e esquerda – parecem acirrar uma disputa ideológica sem fim, envolvendo até mesmo a questão da pandemia; a qual serve de pano de fundo, agora, para justificar o pedido do impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Embora os cuidados com a saúde parecessem poder fazer a todos superarem as desigualdades sociais, o que se observa é que os ideais em relação à pandemia parecem não ser amigáveis, pois os sujeitos – ainda! – não chegam ao mesmo ponto. De um lado, os bolsonaristas que são favoráveis à Cloroquina para o “tratamento preventivo” da doença e, ironicamente, contrários a vacina; de outro, aqueles que apoiam a vacina como um meio eficaz de prevenção, se reconhecendo como os defensores da ciência.
Os discursos, contraditórios, se traduzem em uma tensão e dão ênfase a uma politização da doença, já desde o seu início em março de 2020. Em meio a todo o “aparato discursivo” – as coisas que são ditas em dada conjuntura –, outros “regimes de verdade” vão se manifestando. Frente aos discursos polêmicos que circulam na atualidade, considerando tanto as verdades quanto as fake-news, os sujeitos vão se constituindo, em meio às contradições. Após a pandemia, quando a vida retornar à “normalidade”, fica o questionamento… Quem será você?
Doutorando em Estudos Linguísticos
Professor
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