Ser/estar feliz. Não existe fórmula, não existe receita. A felicidade se situa no campo da subjetividade. Só o sujeito pode dizer dela. Estar infeliz para mim é estar em estado de esvaziamento de sentido para as coisas. Estar feliz é ser atacada pelo vírus da filosofia rebelde que põe em questionamento o viver. Quando leio os rebeldes não me sinto só. Os rebeldes me dão energia, não para pensar como eles, mas para pensar. Entender a tensão com o mundo e com o outro. Interajo com esses pensadores a partir das minhas angústias, infelicidades e preocupações num caminhar de ressignificações. Os rebeldes trazem questões vivas, não importa o tempo em que viveram. Eles estão em alteridade comigo, dialogando comigo no meu tempo. São referências sem as quais seria impossível estabelecer essa relação com a dúvida e com o questionamento.
Isto não tem a ver com conforto ou bem-estar, pois conforto e bem-estar seriam a aceitação dos poderes constituídos ou das hierarquias das normas e regras. Não. Questionar é trabalho. Trabalho de reflexão. Conhecimento de mim mesma é trabalho para a vida toda, mas me é extremamente prazeroso. O trabalho de reflexão me traz obrigações, a obrigação de buscar respostas para as velhas teses que vou derrubando pelo caminho e das posições que não me interessam mais. A infelicidade está na inflexibilidade, na incapacidade de romper com dogma imposto, está na repetição das mesmas ideias e posicionamentos, ao passo que filosofia é a própria prática da mudança e da educação (não repressão ou controle) dos afetos – uma prática contínua até o fim da vida, e que eu poderia chamar de felicidade ou caminho para a felicidade. Tudo dentro da medida da minha humanidade; ou seja, da minha limitação. Entender já é uma libertação, e quem disse que isto não é felicidade? Fora disto, seria o caso de não ter nascido.
Cientista Social
Mestre em Sociologia
Professora de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda na Uninter
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