***Vol. 2, Nº 008 / 2020 - 28/01 (PRESENTE) *Sociedade Sandra Nodari

Mônica Calazans – “Estou Falando Como Brasileira, Mulher Negra”

Sandra Nodari

Lady Gaga recebeu, em janeiro deste ano, o prêmio “Higher Ground”. Foi dado pelo “The King Center”, uma organização criada por Coretta Scott King em honra ao seu esposo assassinado, o grande nome dos direitos humanos para pessoas negras, Martin Luther King Jr. A pergunta que faço é: por que uma mulher branca recebeu este prêmio?

Gaga é ativista pela justiça racial e, em sua fala, mostrou que entende mesmo de escuta: “Nós, brancos, aprendemos que os outros é que precisam de conserto. Em vez de perguntarmos o que está errado neles, devíamos nos questionar sobre o que há de errado em nós”. Pessoas brancas não estão acostumadas a ouvir pessoas negras e, com o mérito do privilégio, aprendemos que o que é certo para nós é certo, é – ou, deveria ser – também certo para o mundo. Apesar da onda obscurantista em que vivemos, estamos aprendendo que temos que permitir às pessoas falarem, e que a parte que nos cabe é apenas escutá-las.

A primeira pessoa a receber a vacina contra o Covid-19 no Brasil foi uma enfermeira negra, que conseguiu terminar a faculdade apenas aos 47 anos e que, hoje, toma dois ônibus para chegar ao trabalho. Como otimista que sou, reconheço nela um Brasil que pode estar finalmente aprendendo a valorizar as pessoas negras, homens e mulheres que – até mesmo numericamente, em proporção estatística – carregam este país nas costas; ainda, infelizmente, para que homens brancos possam ser visibilizados e receber os “louros da vitória”, em palmas obviamente midiatizadas.

A despeito da óbvia estratégia de marketing promovida por um homem branco, rico e em posição de poder, Mônica Calazans foi ouvida: “Estou falando como brasileira, mulher negra”. Há que comemorar? Sim! Em Portugal, por exemplo, a primeira pessoa vacinada foi um homem branco, de 65 anos, diretor do serviço de infecciologia de um hospital. O médico António Sarmento acredita ter sido escolhido pelo simbolismo – e foi, mesmo! Que possamos, então, ouvir cada vez mais Mônicas.

Sandra Nodari

Jornalista
Mestre em Comunicação e Linguagens
Professora de Jornalismo na Universidade Positivo
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