Tive o privilégio de presenciar o amor de João e Simão. Quando os visitava, me sentia em uma casa de vó (é sério, até com as marmitinhas cheias de comida caseira). O Simão tinha um dom, e não era apenas na minha opinião – mas, também, na da minha mãe, que queria até gravar ele cozinhando para aprender. Pra mim, como filha, não há a possibilidade de um reconhecimento maior de autoridade.
O Simão amava e cuidava como uma preta velha, e eu não consigo imaginar um jeito melhor de amar e cuidar. Nunca irei esquecer de sua dedicação, a sua preocupação amorosa com o bem estar do João. Empatia pulsante, em peito aberto. Mesmo prestes a ser novamente internado (para o tratamento de sua leucemia), ele ainda teve as forças necessárias – que só o amor poderia dar – para, uma vez mais, se doar em cuidado: cozinhou tudo o que podia, para que o homem de sua vida pudesse comer bem, de corpo e alma, durante o período em que estaria no hospital.
Meu amadíssimo amigo morreu, 05/12/20. Recebi a notícia de madrugada e, de tanto chorar, não conseguia dormir de novo. Senti, por meio da dor de sua perda, o seu amor por mim; e, então, ele se fez muito presente. O bem que ele me fez, finalmente entendi, para sempre fará parte do que tenho de melhor – e, então, do que sou.
Enquanto eu viver ele viverá em mim e em todos os que o amaram – e, o mais sublime, em todos os que eu ainda puder amar. O bem que ele me fez, estará em todo o bem que eu ainda farei. Talvez seja daí que eu reconheça no João alguém que foi agraciado: de todos nós, é nele em que o Simão mais viverá. É só em um amor assim que a gratidão pode ser maior – e, então, reconfortante – que a saudade.
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Doutora em Comunicação e Linguagens (pós-doutorado em educação)
Editora-chefe da Revista de Bamba
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