***Vol. 1, Nº 006 / 2020 - 30/12 (PASSADO) *Cultura Madelaine Silva

Do Passado da Família, Qual o Meu Futuro?

Madelaine Silva

E se ela tivesse nascido alguns dias antes? E se a mãe dela não tivesse morrido, ali, quando ela tinha pouco mais de quatro anos? E se o pai dela não fosse a pessoa mais doce e generosa que já existiu? E se tudo isso não tivesse acontecido… Seria ela, ainda, a minha mãe? Não há nada mais humano que olhar para o passado e esperar que ele traga respostas para o que somos, para o que fazemos, para as lutas que batalhamos, que perdemos ou ganhamos. O passado – essa narrativa que ganha o tom e o contorno que cada um deseja –, não nos traz apenas as respostas para o que somos, mas, sobretudo, nos nutre de dúvidas sobre o que poderíamos ter sido.

Tudo óbvio até aqui, mas… E se estendermos a mesma dúvida para aqueles que vieram antes de mim? Minha mãe traz no corpo as dores de uma infância partida. Meu pai levou consigo todas as marcas de uma infância que não existiu. Meus avós viveram a vida fugindo de guerras, de pestes, e da miséria consequente. Chegaram no Brasil prontos para viver qualquer coisa que se parecesse com uma vida diferente daquela vivida por seus pais. Diante de tantas vidas marcadas por tanto sofrimento, como não olhar para o passado para questionar o que é o presente, e o que pode ser do futuro?

Não há nada mais consolidado do que a narrativa de um passado que não foi vivido por nós – tudo o que o passado é, é a sua narrativa. Por meio do passado contam-se as histórias de um futuro, colhem-se as justificativas para um presente. No passado colhemos as lições que formaram a aprendizagem de nossa vida hoje, o que dá sentido ao que somos e ao que queremos ser. Para o futuro (seja 2021, seja 2121), a sua vida será um registro de quê?

Madelaine Silva

Filósofa
Especialista em Sociologia Política, e em Gênero e Diversidade
Escritora
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