A sabedoria é uma virtude vista como rara e desejável. Mas é um pouco difícil falar sobre, principalmente se tentarmos transcender a imagem arquetípica do ancião de longas barbas brancas meditando no alto de uma montanha. Até porque essa imagem também acaba fazendo referência a algo inatingível, distante. Parece uma virtude desejável, mas tão pouco acessível e, principalmente, só atingível na velhice. Seria a passagem do tempo um pré-requisito?
Muito embora uma vida de aprendizados seja de valiosa contribuição nessa jornada, os caminhos podem ser trilhados desde a infância, com bons modelos. Engana-se quem pensa nessa característica como um sinônimo de inteligência acadêmica – esta, é muito mais sobre aquisição e utilização de conhecimentos – pois a sabedoria poderia ser entendida como a síntese entre inteligência, experiência e autoconhecimento.
Inteligência não é prerrogativa de educação formal. Seres humanos possuem o aprendizado por observação inscrito em seu DNA, assim como a capacidade de estabelecer conexão entre os fenômenos. Prestar atenção – quesito principal da memorização – e ter abertura para absorver o que o entorno oferece. Já a experiência, bem, essa realmente o tempo ajuda a acumular; mas, nada adianta se a pessoa passar a vida sem se expor à variabilidade de experiências, colhendo os seus resultados (e aprendendo com eles), sejam eles bons ou ruins. Noventa anos de vida no piloto automático não trazem o que trinta anos bem vividos proporcionam – e é nesse ponto que o autoconhecimento entra, servindo de alicerce à sabedoria.
Por fim, o autoconhecimento. Muito pouco pode ser trilhado no caminho para a sabedoria se todo o conhecimento for totalmente voltado ao externo. O mundo sob a pele (metáfora bastante utilizada na psicologia) versa sobre nossas emoções e sentimentos, enfim, nossa subjetividade. Cada aprendizado, cada interiorização de saberes e estabelecimentos de conexões entre o que foi conhecido e como foi significado, aliado a outras virtudes, como prudência e temperança. É quase impossível pensar em sabedoria sem suas “irmãs” e, assim, passo a passo, a trilha da sabedoria é construída.
Psicóloga CRP 08/13.324
Especialista em Psicologia Clínica e Transtornos Alimentares e Obesidade
Coordenadora do Inst. de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Ctba.
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