Foi a palavra que sepultou a minha profissão, em 2017, dita por um pai de um dos meus, até então, alunos. Eu realmente era uma professora feliz, que amava a docência, e que dedicava horas do dia para de, alguma forma, fazer a minha microparte para que alguma “microcoisa” no mundo mudasse (obrigada, BNegão). No entanto, naquele dia, naquele fatídico dia, vi algo morrer dentro de mim. O VA-GA-BUN-DA (dito assim, de forma silabada), não foi uma ofensa somente a mim, enquanto mulher, professora, macumbeira, e tanta coisa que sou e que guardo em mim; mas, também, representa os socos no estômago de quando decidimos que vamos mudar o mundo.
A ingenuidade se esvai com o tempo, a cada Conselho de Classe – em que somos massacrados com o excesso de alunos, com a falta de bom senso ou, mesmo, de um naco de empatia – mas, ainda sonhava com alguma coisa que realmente fizesse sentido para o mundo, despertando apenas quando soaram as tais quatro sílabas. Ser uma VA-GA-BUN-DA, que também é uma pro-fes-so-ra, não é fácil. Combinar as duas coisas deve ser, eu acredito, humanamente impossível, daquelas coisas que nem a Gal Gadot (a “Mulher Maravilha”) consegue fazer.
É difícil tratar de qualquer princípio de igualdade – e, para quem ama Stuart Mill, é até difícil – quando se é uma VA-GA-BUN-DA ou, mesmo, uma pro-fes-so-ra; porque as duas coisas já nascem, por definição, na contramão daquilo que tem qualquer valor para o mundo. Ser pro-fes-so-ra só é legal no Caldeirão do Huck. Valorização da pessoa que estuda, que forma, que aprende, que ensina, só é legal para o político na hora da campanha eleitoral. No resto do tempo, só somos uma multidão de vagabundos que, assim, unidos, ainda tentam dar um pouco mais de sentido para o mundo – para cada aluno, um mundo de cada vez.
Filósofa
Especialista em Sociologia Política, e em Gênero e Diversidade
Escritora
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