***Vol. 2, Nº 011 / 2021 - 10/03 (SABEDORIA) *Sociedade Patricia Pio

A Sabedoria da Avó

Patricia Pio

Recebi um convite pelo qual fiquei repleta de alegria: escrever para a Revista de Bamba, a partir da indicação de um amigo, Marcello Lobo… Meu Deus! Quanta responsabilidade. Coincidentemente, também fui incitada a refletir sobre uma figura feminina que tenha feito parte importante de minha vida, no sentido de que as suas ações tenham contribuído para que hoje eu seja feminista. Acho que, ao finalizar o texto, vocês entenderão como estes elementos dialogam com a pauta de sabedoria, pois na hora lembrei da história de minha avó. Muita gente já deve estar cansada de me ouvir contar, mas… Nada e por acaso, né? Tanto não é que foi no mês de março, na semana de comemoração do Dia Internacional da Mulher, que tudo aconteceu, de eu estar escrevendo para vocês sobre sabedoria – que está nas coisas mais simples, e nas relações que estabelecemos com base na verdade. Não está nos títulos acadêmicos… Ou, pelo menos, não só neles. 

Lembrei-me das histórias de Lúcia Florinda de Sousa, uma mulher negra, analfabeta e moradora do interior de Minas Gerais em Rio Casca, que foi obrigada a se casar com doze anos sem ao menos conhecer o seu noivo (como um jeito de pagar uma dívida financeira de seu pai!). Ao perceber que sofria violência, pelas reações das outras pessoas perante as histórias que contava, saiu da sua cidade com os seus sete filhos; sendo que o mais novo tinha, aproximadamente, apenas cinco anos. Contava que não queria que a história de suas filhas fossem a mesma que a sua. Foi pra Belo Horizonte e, depois, pra São Paulo – além de tudo, agora também divorciada (fugida de casa), ainda na década de 1950. Ela, sem realmente saber, já tinha muito saber… Tanto, que provocou em outras mulheres o reconhecimento de suas potencialidades, para não aceitarem migalhas.

Talvez agora, o ato de apresentar um pouco da mulher que me fez pensar no feminismo – sem, ao menos, conhecer o significado do termo – faça mais sentido a você. Precisamos de muita coragem, e de muita sabedoria, pra mudar os nossos percursos de vida como ela; e, neste sentido, a sabedoria não está no tempo de escola – mas, sim, dos tempos e nos batimentos dos nossos corações.

Patricia Pio

Pedagoga
Especialista em Gestão de Políticas Públicas, Inclusão e Diversidade Social
Coordenação de Equipe Multidisciplinar de Formação da Comunidade Educativa
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