Um dia, a Loucura (mais uma versão de Psique) propôs algo para os outros sentimentos: queria brincar de esconde-esconde com a Alegria, a Tristeza e o Amor. A Loucura tinha uma queda pelo Amor (também, mais uma versão de Eros), e começou a contagem regressiva para a brincadeira. A Tristeza se escondeu por trás de uma pedra mas, muito nervosa, tremeu tanto que logo foi descoberta pela Loucura. A Alegria se escondeu em um arco-íris, mas a sua luz era tão intensa que logo também foi encontrada pela Loucura. O Amor, por sua vez, se escondeu em um jardim de rosas. A Loucura procurou, procurou e procurou, até o cair a noite. Não encontrado, o Amor resolveu sair do seu esconderijo no escuro, e feriu seus olhos nos espinhos das rosas, ficando completamente cego.
Nada mais mítico do que o amor. Eros e Psique são personagens de uma história que se repete, ritualisticamente, por meio das eras e, também é um produto de consumo, e tem várias embalagens: empacotado em storytelling de filmes, da literatura clássica e popular, e das séries em streaming. O amor é até mesmo digital, estando na ponta dos dedos em ritmo frenético, ou no match dos aplicativos de relacionamento.
É a narrativa recorrente do jovem casal apaixonado, que enfrenta os maiores inimigos para realizar o seu amor; assim como, por exemplo, Romeu e Julieta, Edward e Bella (da série adolescente “Crepúsculo”) ou, mesmo, Paulina e Carlos Manoel, do folhetim mexicano a “La Usurpadora”. O amor é assim, moldável como o barro do filme “Ghost”. Todos manifestam o que há na própria palavra “amor” que, provavelmente, se originou do latim “mors” (morte) – e que, com o seu prefixo de negação (“amors”) seria o que vive para sempre. A Loucura guia o Amor, mesmo depois da morte; mas, só os loucos (felizes!) se entregam ao amor, esse vasto território entre o mito e o sonho.
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Doutor em Estudos da Linguagem
Professor de Publicidade na Universidade Federal do Paraná
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