13 de Outubro, 1987. Ela foi à maternidade e saiu de lá com uma criança em seu colo. 14 de Outubro, 1987. Ele foi ao cartório. Um nome com nove letras, um sobrenome com cinco e outro sobrenome com cinco. O sobrenome do meio riscado. Um nome, nove letras, um sobrenome, cinco letras. Madelaine Silva – e só. Assim foi ela, por toda uma vida: com uma parte usurpada por seu pai. E só. A potência de um nome – e a identidade por ele gerada – vão além do livro de registro civil, do RG e da complicada fotografia em 3×4. Um nome serve para que nós nos sintamos parte de algo, pertencentes a algo: que ora amamos, que ora odiamos, mas sempre algo que conta para nós de onde viemos, e para qual sepultura iremos.
Ser parte de uma família, identificar-se com os seus avós, tios e primos, dá a uma pessoa o direito de se sentir parte daquela história familiar: em cada vida, em todas as suas vitórias e em todas as suas derrotas, em tudo aquilo que se divide, e em todos os momentos que se congrega. Seja para o bem, seja para o mal, já que até mesmo as brigas de família são… De família.
Ouso dizer que o sentimento de pertencimento é o mais próximo que chegamos de experimentar o que é, de fato, fazer mesmo parte de algo. Acolher um indivíduo em sua plenitude – o respeitando de forma absoluta e inquestionável –, é a forma mais expressiva de ser fraterno. Olhar para o outro é, também, olhar para si. Fazer com que uma pessoa se sinta parte de algo pode ser expresso de muitas formas – a começar, pelo nome. Depois de findado o processo de retificação do meu nome, serei, finalmente, uma pessoa que faz parte da família de minha mãe. Madelaine Lucca (e talvez, ainda, Silva).
19 letras e, não mais… Só.
Filósofa
Especialista em Sociologia Política, e em Gênero e Diversidade
Escritora
Facebook / Instagram