***Vol. 1, Nº 001 / 2020 - 20/10 (LANÇAMENTO) *Cultura Fernando Meira

À Espera de Ofélia

Fernando Meira

Forjo uma loucura, juro-te amor e te escrevo desta realidade distópica. Aqui, a peste assola, amontoam-se os corpos e os doentes são tantos que os bravos boticários não dão conta de atender. Escrevo-te porque já não posso encomendar uma peça de teatro, uma porque os teatros estão fechados e meus amigos comediantes padecem – eu também padeço. O Rei governa num trono manchado de sangue, e governa como o bom nécio que sempre prometeu ser. Torci para que a peste também o alcançasse, mas foi em vão… O pior é sempre sem limites, não é minha cara?

Coloquei uma musica para me ajudar a te escrever, sim, aquela que a gente ouvia no sofá enquanto fumávamos, rindo da tal “tioria”. Lembra que o quarto não abria a porta? Não é estranho pensar que a agora nenhuma porta pode ser aberta, nenhum lábio pode ser beijado, não haverá abraços por um longo tempo. No fundo o que ressoa dentro de nossas celas é o cansaço, o inverno falso destes tempos, a falta de água, de futuro, de esperança…

Não sei quando poderemos novamente nos encontrar, a peste nos impõe uma quarentena infinda, por isso forjo uma joucura e juro-te amor… Espero que esta a encontre num afortunado isolamento e deixo-te uma frase de conforto: “o brasileiro só será livre quando o último fascista for enforcado nas tripas do último pastor”. É só uma frase roubada de um escritor, que a roubou de outro, mas que merece chegar até você…

Com amor, Hamlet.

Fernando Meira

Ator
Diretor de Teatro
Dramaturgo
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