A pauta de doença, dentre tantas, é relativamente conveniente para mim. Estudei sobre ela durante mais de uma década. Dentro do viés da comunicação, quis entender sobre como ela é representada na mídia e, dentro e fora dela, construída. Resumindo algumas das ideias, entendi que o que está em revistas, televisão, cinema, etc. é a disputa entre grupos, em suas relações de poder. Como assim? Quem está produzindo o que você “escolhe” ver e escutar? Mais importante ainda, que está pagando a produção? Quem são os anunciantes do que você consome? Por exemplo, em meu doutorado pesquisei sobre como homens e mulheres eram representados como “saudáveis” nas revistas Men’s Health e Women’s Health (na época, publicadas pela Editora Abril).
Fiz um levantamento quantitativo dos conteúdos editoriais e, paralelamente, dos principais segmentos e marcas anunciantes; a partir do qual estabeleci categoriais de análise (a partir do referencial teórico) e, dentro de uma perspectiva qualitativa, interpretei semioticamente cada um dos anúncios. Descobri que publicações que se propõem tratar sobre a “saúde do homem” e a “saúde da mulher” – em uma tradução literal do título das revistas – o que menos importa, mesmo, é a saúde.
O principal segmento da Men’s Health, por exemplo, era de suplementos alimentares para hipertrofia muscular; ou seja, os remédios que os homens tomam para ficar musculosos. A principal marca, com mais anúncios dentro do período pesquisado, era justamente a que prometia força, potência, etc. – todos os ideais relacionados aos estereótipos masculinos. O conteúdo editorial, previsivelmente, estava de acordo: suas principais matérias eram sobre exercícios, alimentos e, óbvio, consumo de suplementos alimentares para ficar cada vez mais forte.
A partir do que entendi que temos, dentro e fora da mídia, dois tipos de saúde: a genérica – aquela que se propõe a cuidar dos corpos “em geral” – e, a mais presente, a generificada. A saúde generificada é específica de acordo com o gênero da pessoa: um homem saudável é muito musculoso, forte e potente; a mulher saudável é, principalmente, magra. A consequência é que, muito provavelmente, você pode estar se sentindo doente, talvez, sem realmente estar: no exemplo, tudo bem você ser um homem pouco musculoso, e tudo bem você ser uma mulher gorda, entende?
Relações Públicas e Publicitária
Doutora em Comunicação e Linguagens (pós-doutorado em educação)
Editora-chefe da Revista de Bamba
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