***Vol. 2, Nº 010 / 2021 - 24/02 (DOENÇA) *Saúde Carolina Vigna

A Doença na Arte

A relação entre algumas psicopatologias e a arte é conhecida, e bastante estudada. Muitos autores se debruçaram sobre o tema, como Freud (ex: “Totem e tabu”), Foucault (ex: “Doença mental e psicologia”), Nise da Silveira (em todo o conjunto de sua obra) etc. Do ponto de vista formal, a quebra entre as consciências corporal e espacial, em adultos, frequentemente sinaliza uma psicopatologia; em comparação, é esperado o desenvolvimento da consciência espacial até os dez anos de idade e, a corporal, dos quatorze. Em crianças, uma alteração na faixa etária de desenvolvimento psicomotor – ao andar e falar – é compreendida como um sintoma a ser investigado, sendo que uma alteração na etapa do desenvolvimento simbólico é, também, um sintoma a considerar.

A esquizofrenia é, provavelmente, a psicopatologia mais estudada em relação à produção artística; em parte, se deve às teorias em torno de artistas como Vincent van Gogh e Edvard Munch. É importante lembrar que, em muitas patologias, como na esquizofrenia, a expressão (mesmo artística) frequentemente é um monólogo de natureza hermética e solitária – qualquer resposta é compreendida como uma invasão e, então, precisa ser feita com extrema cautela. Dou aula de desenho para crianças do espectro autista, que é uma outra questão completamente diferente; para elas, o desenho é como um diálogo possível, e se frustram caso não recebam uma resposta digna e atenciosa. Sentem-se ignoradas e, portanto, agredidas. Esta resposta, entretanto, não precisa ser necessariamente verbal, pois muitas a recebem em imagens (desenhos, fotografias, vídeos etc.).

Pensando exclusivamente a partir da arte, há uma diferença fundamental: o esquizofrênico está lutando com toda a sua energia contra a sua psicopatologia, enquanto o indivíduo do espectro autista está lutando com toda a sua energia contra uma sociedade que não o compreende. Metaforicamente, a arte do esquizofrênico grita desesperadamente, e a do espectro autista te convida para uma conversa – aceite. Acredite, você só tem a ganhar.

Carolina Vigna

Artista Plástica e Escritora
Doutora em Educação, Arte e História da Cultura
Professora de História da Arte no Centro Universitário de Belas Artes de São Paulo
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